segunda-feira, 2 de julho de 2012

MÃE

Você veio depois de um ano de afastamento, um ano de saudade, de falta. E você me enlouqueceu! Eu te abracei forte, te apertei, belisquei teu pescoço, amaciei teus seios fartos que eu tanto amo, aspirei teu cheiro de todas as formas que pude, como se fosse o último suspiro. Me aninhei em seu colo, beijei tua pele já marcada pelo tempo e te mordi de leve, sem machucar, mas queria na verdade um pedaço teu, um pedaço físico que ficasse aqui comigo pra sempre. E tudo isso, acredito eu, como uma forma inconsciente de tentar voltar pro teu útero, pro lugar quente e confortável onde ficamos protegidos de tudo e de todos. O lugar onde só uma mãe pode guardar o seu filho, dentro de si.

Ainda assim, você me enlouqueceu! Com seus conselhos repetidos, suas cobranças, seus temores, suas reclamações. Você não parava de falar um segundo. Me deixou exausto, emocionalmente esgotado. Me questionou sobre assuntos que eu já expliquei milhões de vezes e falou sobre coisas que eu já escutei milhões de vezes. E se deprimiu e chorou, se sentiu culpada e me fez sentir culpado. Disse que não conseguia ser feliz longe de mim, depois disse que era uma mulher muito feliz. Tentou me persuadir de continuar morando sozinho. Remexeu nos meus livros, nos meus filmes, nas minhas roupas. Infelizmente ainda não conseguiu entender que a sua felicidade não é a minha e por isso me encheu de palavras com boas intenções que soaram tão desanimadoras.

E quando eu achava que não ia suportar e iria explodir, respirava fundo e fingia que não era comigo. Foram três dias, apenas três dias, e você conseguiu colocar em dia todas as cobranças e conselhos e afins de uma vida inteira. E quando começava a sair fumacinha pelos meus ouvidos você se foi, e antes de partir pensei em que como era bom voltar a normalidade, estar sozinho de novo, em silêncio, mas minutos antes do embarque me agarrei a você e você me pediu desculpas, e senti vontade de chorar. Você não tinha que se desculpar por coisa nenhuma. Então eu me desculpei, por ter feito você pensar que devia se desculpar por alguma coisa. E eu não queria te soltar. Queria que você fosse, mas também queria que você ficasse, e você se foi. Seguiu seu caminho, eu segui o meu. 

De volta a normalidade, pude caminhar livre pela cidade. Dei voltas pelo centro, tomei uma cerveja, senti uma tristeza. Voltei pra casa. Ao entrar no apartamento um vazio, uma falta enorme. Esqueci os conselhos, as cobranças, as críticas, as chantagens emocionais. Só consegui lembrar do cheiro, do calor, do colo, das palavras doces, da pele, do toque, do sorriso, do jeito puro que só você tem e da falta imensa que tudo isso me faz.

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