sábado, 26 de junho de 2010

PRA DIZER ADEUS

Para Murilo

Podíamos deixar que o tempo passasse, sábio e sorrateiro, e levasse de arrasto tudo o que ficou em suspenso, as explicações, as "DRs", as palavras muitas vezes tão desnecessárias. Você com sua natureza prática e fria certamente preferiria assim, mas eu não consigo, queria fazer algo formal, que esclarecesse em definitivo o fim dessa amizade, e sabe por que? Simplesmente porque essa solene despedida nada mais é do que uma carinhosa homenagem aos bons amigos que fomos, a tudo o que vivemos juntos, a como foi bom enquanto durou. Você que tantas vezes foi citado aqui neste blog como o amigo querido e especial, seria irônico se não fosse mencionado uma última vez como alguém realmente relevante, que sai de cena na história da minha vida, mas deixa deliciosas recordações.

Por que se acaba uma amizade?

Amizades são pra sempre, dizem alguns, e por muito tempo desejei e acreditei ardentemente que isso fosse verdade. Mas a vida se encarregou de me fazer entender que amizades inatingíveis são pra uns poucos felizardos, o que resta pra grande maioria dos pobres mortais são amizades ocasionais que duram por um tempo e depois se desfaz, assim como a nossa. Amizade datada, que no íntimo sabe-se que um dia vai acabar, só não se sabe quando. E enquanto dura é tão maravilhoso que deseja-se que seja eterno, mas quando se põe o coração de lado e pensasse com a razão entende-se que nesse insano mundo comtemporâneo o pra sempre, sempre acaba.

Mas por que a nossa amizade acabou?

Divergências? Falta de afinidade? Distância? Mágoas?

Nenhuma das alternativas anteriores.

Divergências resolve-se com diálogos e dialogar, falar, tagarelar era o que mais fazíamos. As vezes o silêncio fazia-se necessário, mas até sem palavras nos entendíamos.

Falta de afinidade quase não tínhamos, apesar de muito diferentes. Mas nossas diferenças é que dava o tempero exato na nossa amizade.

Distância nunca foi problema pra nós, ainda mais com todas as alternativas tecnológicas disponíveis.

Mágoas não as tenho. Você tem alguma?

Então por que? O que nos impede de continuar uma bonita e sólida amizade?

Pura e completa falta de interesse de ambas as partes. Deixou de ser bonita e prazerosa, deixou de ser especial, tornando-se apenas mais uma. Foi deteriorada pelo tempo. E chegamos nun ponto de lucidez em que insistir, remendar, reciclar não nos interessa mais. Preferimos ficar apenas com as lembranças boas dos primeiros dias, dos primeiros meses, do primeiro ano. Da cidade de Porto Alegre, que vai ser sempre nosso canto especial no mundo; das festas; das tardes no gasômetro, na redenção; dos filmes; dos conselhos; das confidências; dos barzinhos; dos desabafos; dos amigos em comum; do dinheiro contado; das risadas; dos deboches; dos planos; das implicâncias e da admiração mútua, porque sem ela uma amizade não dura nem 24 horas e a nossa foi muito além disso, compartilhamos dois invernos e duas primaveras.

E que tudo isso dure pra sempre, sem rancores e sem mágoas.

Talvez um dia nos encontremos novamente, mas até aqui adeus!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

DE MÁRIO QUINTANA PRA MIM


Relendo antigos poemas esquecidos na estante, um achado. Como se alguém que te conhece melhor do que você mesmo tivesse escrito especialmente pra você. O poema de Mário Quintana chamado BOLA DE CRISTAL



A praça, o coreto, o quiosque,

as primeiras leituras, os primeiros

versos

e aquelas paixões sem fim...

Todo um mundo submerso,

com suas vozes, seus passos, seus silêncios

- ai que saudade mim!

Deixo-te, pobre menino, aí sozinho...

Que bom que nunca me viste

como te estou vendo agora

- e é melhor que seja assim...

Deixo-te

com os teus sonhos de outrora, os teus livros queridos

e aquelas paixões sem fim!

e a praça... o coreto... o quiosque

onde compravas revistas

Sonha, menino triste...

Sonha...

- só o teu sonho é que existe.