sábado, 29 de dezembro de 2012

RETROSPECTIVA 2012

Enfim, 2012 foi um ano cheio, cheio de preocupações e angústias. E como esta é a última postagem do ano, nada melhor do que fazer uma curta retrospectiva, pra exorcizar de vez tudo que foi indigesto. Sem querer ser negativista, houve pouquíssimos momentos de deleite e prazer em minha trajetória esse ano. Posso contar nos dedos quais foram eles. 

O dia em que estive com Pilar e passamos uma noite extremamente agradável, saboreando um delicioso buffet de sopas na confeitaria Bella Paulista, onde conversamos sobre tantas coisas que precisavam serem ditas, refletidas e ponderadas, e tiramos fotos e vimos gente famosa e fizemos compras. Foi um dia marcante e gratificante pra mim que ficou gravado na memória e perdido naquele friorento mês de maio. Também em maio, matei 3 dias de trabalho e fiquei um fim de semana inteiro refletindo sobre meu destino na Livraria Cultura. Foram 3 dias decisivos e reparadores, em que ocorreu a virada cultural, com manifestações artísticas gratuitas por toda a cidade de São Paulo e nesse embalo tive uma noite deliciosa numa baladinha bem trash na Rêgo Freitas, acompanhado de Said e um namoradinho que ele tinha na época. O lugar não era dos melhores, mas a noite foi regada a muita música e risada, foi ótimo. Falando ainda de momentos bons, não posso negar que ser selecionado pra trabalhar na Cultura, uma livraria que sempre sonhei estar como funcionário, foi um grande momento de alegria e êxtase. Mal sabia eu o que me esperava.

Dois mil e doze foi um ano em que fiquei à margem, a beira de um ataque de nervos. Tinha sempre algo fabuloso prestes a acontecer, mas a bola sempre batia na trave, todas as vezes, o tempo todo. A começar pela faculdade, a tão desejada faculdade, o bendito curso superior, que quando tudo parecia estar encaminhado pra grande realização em terras são paulinas, a pedra no meio do caminho. Adiei o curso de letras porque não havia formado turma no campus Vergueiro, próximo de casa, e eu não tinha a possibilidade de estudar em outro campus. Falta de organização da universidade e falta de um plano B da minha parte. Atordoado parti pras lamentações e chororôs, até receber uma ligação do RH da livraria. Entre o telefonema, os testes, a contratação e meu pedido de demissão da Dedic, correram uns 7, 8 dias. Parecia perfeito, mas tudo se tornou um pesadelo em bem pouco tempo.

A distância no trajeto casa-trabalho-casa, a arrogância e hostilidade de certos colegas, a falta de interesse e má vontade dos tutores em explicar o ofício e erros gravíssimos envolvendo salário e benefícios. Por maior paixão que eu tivesse pelos livros e maior desejo de fazer parte da equipe Livraria Cultura, que confirmo com convicção é a melhor rede de livrarias do Brasil, não teria como suportar tantos dissabores de uma só vez. Fiquei os 3 meses da experiência e saí com uma sensação de liberdade e tristeza. Me senti leve e livre de tanta gente maldosa e de energia pesada, mas também triste por constatar que a realidade muitas vezes é completamente diferente dos sonhos que a gente acalenta, infelizmente pra pior.

Saindo da Cultura curti umas duas semaninhas de puro ócio, até entrar numa fria, menos pior que a anterior, mas uma fria de qualquer jeito. Fui trabalhar na Intervalor, uma empresa de tele-cobrança, pois é, acabei voltando pro telemarketing. Ambiente agradável, pessoas legais, mas salário completamente incompatível com as minhas necessidades. Depois de dois meses, estava em total desespero, precisava de outro emprego o mais rápido possível. Aluguel atrasado, contas acumulavam, socorro, alguém me ajuda! No início de setembro estava eu, começando tudo de novo no Carrefour, sim, o supermercado, como recepcionista de caixa. Trabalho humilde, estressante, cansativo, mas digno. E hoje afirmo com toda a convicção do mundo, quero e pretendo ficar no mínimo um ano nesse lugar e até agora estou suportando bem, sem grande sofrimento. É tudo uma questão de foco. Entrei cheio de expectativas na Cultura e me ferrei, sem expectativas nenhuma no Carrefour quem sabe atinjo meus objetivos tão acalentados.

Mas nem só de trabalho foi feito meu ano, também teve brigas, reencontros, reconciliação e uma pequena viagem. 

Briguei com Luli em fevereiro, rompemos e ficamos três meses sem nos falar. Em maio, voltamos as boas. Em junho, minha mãe passou por aqui antes de viajar pra Sergipe, ficou 3 dias comigo. Passeamos e matamos a saudade. Na volta pra casa passou novamente por aqui. O que acabou causando um estresse idiota e desnecessário com a proprietária do prédio, que não permite visitas. Mas que se dane, jamais deixaria de receber minha mãe por causa de uma regra radical e imbecil. Em julho discuti virtualmente com Everton, ele me excluiu do facebook e paramos de nos falar até poucos dias atrás. Em 23/12 tivemos um almoço de reconciliação. Antes dessa pequena rixa, em 19 de junho fizemos um café na casa dele, juntamente com João, em comemoração a um ano meu aqui em São Paulo. E em Novembro, aproveitando alguns dias de folga do Carrefour, consegui viajar até Capão da Canoa. Foram apenas três dias, mas deu pra aquietar meu coração, que já estava indócil por não poder rever os amigos e a cidade que me foi tão acolhedora no período em que lá vivi. Revi Daniel, Luísa, Jennifer, Adelane mas não consegui rever, Robson, Vagner, Jonas e tantos outros. Comi a comidinha incomparável de mamãe. Fui recebido por um churrasco sensacional, preparado inacreditavelmente pelo meu pai, que está de volta sob o mesmo teto que a esposa que ele abandonou, provando mais uma vez que o mundo dá muitas voltas.

Por fim, foi um ano emocionalmente turbulento, mas sem paixões platônicas, o que já é uma grande vantagem. Foi o ano em que comecei a escrever meu primeiro livro e ainda não consegui terminar o primeiro capítulo, mas tudo bem, o importante é persistir. Foi um ano que me maltratou um pouquinho, mas só pra não perder o lugar comum, saio dele mais forte, desejando pra 2013 os mesmos desejos que ainda não realizei e com a mesma fé de sempre. No dia 31 estarei na praia e pedirei tudo igualzinho a anos anteriores, quem sabe dessa vez dá certo.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

CINEMA 2012

Sim, eu confesso, assumo que contabilizando minhas idas ao cinema nesse 2012, foi uma vergonha. Míseras 7 vezes! Inadmissível para alguém que se pretende um cinéfilo de carteirinha, mas foi isso mesmo, apenas sete vezes me dispus a sair de casa pra assistir um filme na grande tela e no escurinho. Sei lá, não sei explicar, admito que já fui mais entusiasmado com o ato de ir ao cinema e nesse último ano andei meio desanimado, talvez a oferta não tenha sido tão boa quanto a de outros tempos, mas enfim, o fato é que ainda gosto muito e esse ano realmente não tivemos produções cinematográficas de muito impacto, nem tão empolgantes assim, pelo menos pro meu gosto. De qualquer maneira, vale registrar os 7 filmes que me fizeram sair de casa em 2012:

  
Românticos Anônimos: Primeiro filme que assisti este ano, em 1 de janeiro, no cinema Reserva Cultural da Paulista. É uma comédia romântica bem bonitinha que assisti por dois motivos principais, é francês e se passa numa pequena fábrica de chocolates. Na história, Jean-René é dono dessa fabriqueta de chocolates que está prestes a fechar as portas porque seus doces não fazem mais tanto sucesso como antigamente, e Angélique é uma talentosa chocollatier, que após ser contratada por ele acaba salvando a fábrica da falência. Os negócios no entanto, são apenas o pano de fundo para a curiosa história de amor que acontece entre os dois. Angélique e Jean-René têm muito mais em comum do que imaginam. Os dois são solitários e carentes. Querem conhecer alguém com quem possam se relacionar e viver uma história, mas não conseguem porque são patologicamente tímidos e aí entra o tom cômico de todo o filme. Na tentativa de um encontro romântico ou de uma noite de amor, os dois passam pelas situações mais constrangedoras que acabam se tornando hilárias por conta da timidez excessiva que os impedem de concluir o que começam. No final entendemos que quando duas pessoas se amam de verdade sempre se dá um jeito, nem que seja um jeito bem maluco.


Os Descendentes: Em 20 de fevereiro, no Cinemark do Pátio Paulista, foi a vez do concorrente ao Oscar, com George Clooney no papel principal. Curto e grosso: não gostei. O filme não é ruim, mas fizeram tanto oba-oba em cima dele que acabei criando uma grande expectativa, que não foi superada. Na história, Clooney tem que lidar com o coma da mulher que sofreu um acidente de barco, enquanto cuida de duas filhas, uma adolescente de 17 anos e uma garotinha de 10, ao mesmo tempo que precisa decidir se vende ou não as terras que herdou no Hawai. Em meio a tudo isso, ele ainda descobre por meio da filha mais velha que sua mulher tinha um amante e precisa lidar com sentimentos contraditórios de raiva, mágoa e piedade enquanto a esposa definha. Não deixa de ser um bom drama, a fotografia com as belas imagens do Hawai é lindíssima, mas o filme não me cativou.

 Shame: Quando o assiste em 17 de abril, no Unibanco Arteplex da Augusta, comentei que não sabia se tinha gostado, não consegui formar uma opinião logo após tê-lo visto. A verdade é que este Shame não mexeu comigo, nem pro bem, nem pro mal. Talvez porque o sexo já esteja tão banalizado, a ponto de uma história que narre o vício de um homem comum pelo mesmo e suas consequências em seu cotidiano e emocional, não me dizer nada. Ainda não sei explicar os motivos, mas imaginava que o filme fosse mais chocante, algo estarrecedor. Acho que o diretor pegou bem leve, ou eu que já não me choco com quase nada. Valeu pelo tão alardeado e brevíssimo nu frontal de Michael Fassbinder.


O Espetacular Homem-Aranha: Certamente não é o melhor filme já produzido do Homem-Aranha, mas o elenco é o melhor. Constatei isso em 15 de julho, no Espaço Itaú do Shopping Frei Caneca. Achei Andrew Garfield uma escolha muito melhor que o inssosso, porém excelente Tobey Maguirre. Ema Stone não está a altura de uma Kirsten Dunst, mas funciona muito melhor e cativa muito mais como a namorada do herói aracnídeo. Sally Field na pele da querida tia May é muito amor. Este novo Homem-Aranha, é mais garoto, mais impetuoso, mais divertido, mais leve e bem mais sexy. Seu primeiro filme não superou os anteriores com Tobey, mas certamente superará muito em breve.

  Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge:
E ainda na onda dos super-heróis, fui assistir em 5 de agosto, o último episódio da trilogia do Homem-Morcego vivido por Christian Bale, que deixou vários ganchos para um novo filme. Batman é sempre Batman, bom mesmo que seja ruim, e esse foi muito bom. Com um elenco estelar, como já é de praxe, o diferencial dessa vez foi a volta da Mulher-Gato totalmente repaginada. Anne Hathaway na pele de uma ladra pra lá de charmosa e dissimulada, deu vida a uma Mulher-Gato que não supera a de Michelle Pfeifer, porém ganha o segundo lugar com honras. Destaque também para o delicinha Joseph Gordon-Levitt e a deslumbrante Marion Cotillard.

  
As Vantagens de Ser Invisível: No dia 22 de outubro, fui ver no Espaço Itaú do Shopping Bourbon, a este que pra mim foi o melhor filme do ano. Pra falar tudo de bom que esse filme tem, e todas as sensações que ele provoca, e o quanto ele mexe com os nossos sentimentos, porque fala de uma coisa que é comum a todos nós, que é aquela fase turbulenta da adolescência, onde ser parte de alguma coisa se faz absolutamente necessário, teria que fazer uma resenha só pra ele. Mas bem resumidamente o filme é isso, uma grande história de amor que mostra o poder de uma forte amizade, poder capaz de superar traumas inimagináveis. Somos arrebatados pela história de Charlie, Sam  e Patrick em atuações apaixonantes de Logan Lerman, Emma Watson e Ezra Miller, ao som de uma trilha sonora com canções emblemáticas dos anos noventa de arrepiar e que nos dá aquela vontade nostálgica de ser infinitos.


Amanhecer - Parte 2 (Final): Pra terminar o ano, não poderia deixar de ver o capítulo final da saga mais badalada dos últimos quatro anos. Crepúsculo, uma grande e gostosa fantasia, que pra mim acabou em 26 de novembro. Para tristeza de muitos e alegria de tantos outros, não teremos mais os embróglios amorosos de Bella, Edward e Jacob. 

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O QUE LI EM 2012

Neste dia de natal, uma pequena lista do que li neste ano que está quase terminando:






Encerro o ano com estas três maravilhas da foto acima. Comprei-os no início deste mês e já li dois, o Noite em Claro da Martha Medeiros e O tigre na sombra da Lya Luft. Já estou na metade de Um lugar na janela - Relatos de Viagem da Martha Medeiros e certamente acabarei antes que o ano se finde. Como tudo da Martha, é tão bom e deleitoso que é impossível não devorá-lo rapidamente. Mas ao longo do ano, passou pelas minhas mãos coisas gostosinhas de se ler e outras nem tanto.

Iniciei minhas leituras em 2012 com ela mesma, a Marthinha do meu coração. Encontrei seu Topless de 1997, sem querer na livraria do Espaço Itaú de Cinema, enquanto esperava a sessão do meu filme começar. Em formato pocket e por um precinho camarada, um dos poucos dela que ainda não tinha lido, foi impossível não levar. Depois do filme e com meu livro em mãos, voltei pra casa feliz, feliz. O que achei do livro? Seria uma redundância tecer elogios a mais essa obra da querida Martha Medeiros.

Em seguida caiu em minhas graças, através da amiga Luli, o livro de crônicas do Walcyr Carrasco, Pequenos delitos, lançado em 2004, que com seu humor peculiar, discorre sobre as mais diversas situações do cotidiano de forma leve e pessoal. Também por meio de Luli, pude ler Almodóvar pela primeira vez, depois de assisti-lo tantas vezes. Seu Fogo nas entranhas, poderia ser mais um dos sensacionais filmes que dirige com grandes doses de humor, erotismo e uma pitada de bizarrice.

Depois vieram O rio do meio e Mar de dentro, ambos de Lya Luft. O que dizer sobre eles? Lya Luft é Lya Luft, com seu estilo muito próprio, mas sempre tocante e cruamente verdadeiro demais. Lê-la é sempre uma sessão de análise gratuita e gratificante. Terminando Lya, parti para Em Paris tudo acontece... de Bernadete Zagonel, autora desconhecida, formada em musicologia, que após passar uma temporada em Paris escreveu um livro sobre suas impressões da cidade e seus costumes. Talvez se ela fosse formada em letras ou jornalismo o livro seria melhor escrito. Resolvi lê-lo achando que faria uma viagem deliciosa pela capital da França, mas não ocorreu todo o deslumbramento que eu esperava durante minha leitura. Mas pronto, acabou, passou, foi apenas um deslize.

Para recuperar o tempo perdido com o livro anterior, comecei a ler Mentiras sobre o travesseiro, um romance de temática gay escrito por Raphael Mello, jovem autor que conseguiu desperdiçar quase 500 páginas numa estória mal escrita, com dezenas de erros de português e revisão e absolutamente previsível e sem graça. Não me serviu nem como entretenimento puro e simples, queimaria ele sem nenhum peso na consciência. Raiva de ter lido esse livro.

A essa altura me sentindo com dedo podre pra escolher livros, resolvi não arriscar e pegar um gênero que adoro, que são as crônicas. Foi aí que descobri Tati Bernardi com seu b(s)acaninha Tô com vontade de uma coisa que eu não sei o que é. Digamos que Tati é uma Martha Medeiros vinte anos mais nova. Talvez a comparação seja exagerada, mas que ela está no caminho, isso tá. Tati é jovem, moderna, antenada, formada em publicidade é roteirista de vários programas da Rede Globo, entre eles algumas novelas e até esse ano eu desconhecia sua existência. Sua escrita é esperta e fala principalmente sobre os anseios da mulher contemporânea, carreira, beleza, idade e amor, amor, amor. Sempre irônica e sarcástica, Tati é engraçada até quando tenta falar sério. Adorei seu livro, que sem dúvida nenhuma foi minha revelação literária de 2012. Aguardo ansioso seus próximos lançamentos.

No embalo de Tô com vontade... emendei Receitas para mulheres tristes do colombiano Héctor Abad. Livro poético com premissa interessante onde o autor tenta através de receitas culinárias oferecer consolo para o sofrimento feminino em suas mais diversas formas. Receita para um amor feliz, para aplacar a solidão, para o medo da velhice, para a angústia, os desejos proibidos, a falta de desejo e assim por adiante. Esperava mais, mas valeu a intenção do autor que foi realmente original.

O livro Palavra por palavra foi um investimento que fiz em mim. Na narrativa de Anne Lamott ela dá dicas valiosas para quem deseja escrever um livro. Maior identificação comigo impossível. Após ler o enunciado da capa: "Instruções sobre escrever e viver - Você acha que tem um livro dentro de você? Anne Lamott vai lhe mostrar como colocá-lo para fora." Não tive a menor dúvida, comprei-o na hora, e suas dicas são realmente proveitosas, simples e realistas. Será meu xodó por muito tempo.

Malas, memórias e marshmallows de Fernanda França, é uma gostosura. Um legítimo chic-lit (leitura bem mulherzinha, quase adolescente), bom de ler descompromissadamente só pelo prazer de embarcar numa vida cheia de situações e acontecimentos que você adoraria que acontecesse com você. O livro é praticamente uma comédia romântica dessas que você vê no cinema com a Kate Hudson ou Anne Hathaway, mas ali você lê e apenas imagina quem seria a mocinha perfeita pra viver a protagonista Melissa Moya, que embarca em uma grande viagem geográfica e emocional ao embarcar a trabalho rumo aos Estados Unidos. Leitura previsível, porém fofa. 

Embarcando em algo mais realista, iniciei Dias de mel. Um relato verdadeiro de Annia Ciedzadlo, que em 2003 resolveu passar a lua de mel em Bagdá. O destino nada óbvio para uma norte-americana se justifica pela decisão de seu marido Mohamad, que era jornalista nos Estados Unidos, de cobrir a invasão do Iraque e voltar ao Líbano, sua terra natal. Neste livro a autora fala sobre os anos na Bagdá ocupada pelas forças da coalizão e na Beirute marcada pelas divisões sectárias. Fala, também, sobre o dia a dia das pessoas, sua relação com a família de Mohamad, as diferenças culturais entre Oriente e Ocidente e sobre a possibilidade de resolver os conflitos com uma mesa cuidadosamente preparada. Infelizmente não consegui lê-lo até o final por motivos pessoais, mas assim que tiver uma nova oportunidade quero terminá-lo, porque a doçura com que Annia escreve sobre um tema tão espinhoso e por vezes indigesto vale muito ser conferido até o final.

Pequeno comentário sobre um livrinho mequetrefe chamado Onde estou, meu amor?. Outro de temática gay mal escrito, bem mal escrito por um tal de Rogério Moreira Barbosa. Sem mais sobre esse erro disfarçado de livro, minhas leituras seguiram-se com Um livro por dia sobre a temporada parisiense do jornalista Jeremy Mercer na Shakespeare and Company, famosíssima livraria francesa. Livro fraco, mas digno. E o caderno Granta, que em sua nona edição trás uma seleção com Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros e seus mais diversificados contos. Ganhei de presente, achei interessante, mas pouca coisa me cativou ali. 

E assim foi meu 2012 em termos de literatura. Que em 2013 seja melhor!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

QUERO UM AMOR

Sim, eu quero um amor. Mas quem não quer? O correto então seria acrescentar uma palavrinha à frase. Sim, eu também quero um amor. Mas, veja bem, eu disse um amor, não um namoro. Qual a diferença? Toda a diferença. Um namoro não é, nem nunca foi sinônimo de amor. E tem muita gente por aí desesperada por um namoro, acreditando que esse é a solução de todos os seus problemas. Pensam em amor sim, claro, mas o principal são os amassos, andar de mãos dadas na rua, a companhia pro cinema e mais do que qualquer outra coisa, a imensa satisfação de dizer "tô namorando" ou "meu namorado isso... meu namorado aquilo...". Uso o substantivo masculino, porque isso é bem coisa de mulher e gay, esfregar na cara dos pobres encalhados e de todo o resto, que têm um namorado. Homens heterossexuais com raras exceções, não fazem questão nenhuma de espalhar aos quatro ventos que têm uma namorada. Seja por terem uma natureza mais discreta ou por sacanagem mesmo, eles não fazem questão, não tratam o namoro como um troféu, com raras exceções repito.

Como gay posso afirmar que não tenho a necessidade da maioria deles. Seria hipocrisia dizer que não desejo namorar, ter alguém pra ir ao cinema, andar de mãos dadas e dar uns amassos. Claro que sim. A diferença é que pra mim faço tudo isso sem necessariamente estar namorando, o namoro não é uma condição para tais atividades. Vou muito ao cinema sozinho e não sofro, porque amo minha companhia. Conheço pessoas que acham ir ao cinema só, impensável, bom mesmo é ter uma companhia, de preferência um ficante, um peguete ou glória das glórias um namorado. Preferem ficar em casa assistindo filme no dvd e reclamando que não têm um namorado pra dar uns amassos no sofá. Beijar na boca também é fácil, basta chegar em qualquer balada com esse intuito e pronto, depois de umas boas pegadas é só sair de mãos dadas até a porta ou a parada da condução que te levará de volta pra casa no final da noite. 

Por carência ou medo de serem apontadas como pouco desejáveis e encalhadas, ou as duas coisas, pessoas se tornam patéticas na busca por um companheiro, e confundem isso com amor. Essas pessoas não querem ser amadas, querem apenas não ficar sós, não passar recibo de quem não pega ninguém. Então, entre não pegar ninguém e pegar qualquer um, fica-se com a segunda opção, e vemos um desfile dos mais bizarros casais sendo formados por aí a fora, sejam eles gays ou héteros. Nesses casos, às vezes o amor vem, outras não. 

Mas voltando ao amor que eu quero, esse não virá com um namoro. Pra mim o amor precisa vir antes, pra então ser seguido de um namoro. É aquele momento em que você já conhece a pessoa tão bem, já teve todas as comprovações de que ela é tudo que você quer e ambos já estão tão impregnados um do outro que não resta outra saída do que selar o relacionamento com um namoro que será naturalmente muito bonito, forte e consistente, porque houve um encontro de almas ali, construído com muita calma, serenidade e descobertas fascinantes que não deixam dúvidas de que você encontrou "a pessoa".

É um amor assim que eu quero. Encontrar alguém, olhar pra pessoa, mas não só olhar, enxergá-la, e quero que ela me enxergue também. Desejar beijá-la num primeiro momento, porque me senti atraído por ela, porque me provocou um arrepio na espinha, porque quando bati os olhos nela, imaginei que pudesse ser "a pessoa" e ainda assim não beijá-la, porque minha maior urgência é ouvir a sua voz, saber seu nome, decorar cada detalhe do seu rosto, descobrir quem é aquela pessoa por gestos, olhares, sorrisos, suspiros e ter certeza de que não estou enganado. Certo das primeiras impressões, descobrir afinidades. Um amor que me deixe encantado a maior parte do tempo, que fale uma segunda língua, ou pelo menos tenha vontade de aprender. Que se interesse por arte, literatura, cinema, teatro, museus, viagens. Que seja curioso, criativo, talentoso. Que goste de gastronomia, novela, seja leve, bem humorado, bem resolvido, tenha bom gosto musical. Que me mostre coisas novas, me explique coisas que eu não entendo, mas que também aprenda comigo, que eu também apresente a ele coisas que não conhece, sempre numa troca sem fim. É imprescindível que seja inteligente e culto, mas acima de tudo que me ame muito, profundamente, com todas as forças de sua alma e coração. Não quero amar sozinho. Reciprocidade é tudo que eu quero.

Esse é o amor que eu quero pra 2013, mas também quis em 2012, 2011, 2010, 2009, 2008... E se não vier, continuarei querendo até o fim. Idealizado, clichê, surreal? Pode ser, mas não abrirei mão desse amor por tanto tempo aguardado, pra me jogar nos braços de qualquer um, por puro desespero ou medo de ficar sem ninguém. Como já dizia a canção do Kid Abelha "eu quero você, como eu quero..." e se não for como eu quero, penso que a solidão às vezes pode ser a melhor companhia.

  

domingo, 9 de dezembro de 2012

DA SÉRIE: OS FILMES DA MINHA VIDA - EU MATEI MINHA MÃE (11)






Um filme canadense, dirigido pelo jovem cineasta Xavier Dolan, que também protagoniza a história. Acompanha-se o drama adolescente de Hubert Minel, garoto de 16 anos que narra a difícil e conturbada relação com sua mãe, Chantal. 

Os pais de Hubert se divorciaram quando ele tinha 7 anos. Sua guarda ficou com a mãe e desde então, ele tem pouco contato com o pai. Porém, Hubert está naquela fase em que não consegue se entender de jeito algum com sua progenitora. Seus hábitos o desagradam. A decoração da casa, suas roupas espalhafatosas, a forma como ignora suas vontades, a comparação com outros garotos de sua idade, tudo o faz detestá-la. Esse sentimento, ele relata com detalhes em vídeos caseiros, que guarda em gavetas no seu quarto.

Em raros momentos, ambos tentam dar uma trégua as brigas e discussões, mas logo em seguida alguma altercação faz com que um dos dois exploda em ofensas, xingamentos e provocações. É como se mãe e filho não conseguissem viver de outra forma se não aos berros e acusações. A convivência entre Hubert e Chantal, torna-se angustiante para o espectador, pois está sempre à beira do limite, causando um efeito destrutivo na relação. Quando imagina-se que os dois finalmente vão se entender, vem um tsunami de ira de alguma das partes e inunda qualquer esperança de uma reconciliação definitiva. A situação só piora, quando Chantal fica sabendo por intermédio de uma conhecida, que o melhor amigo de seu filho, Antonin, é na verdade seu namorado. Descobrindo assim, a homossexualidade de Hubert. Magoada por não saber pela boca do próprio filho, Chantal nada diz, mas fica remoendo por dentro a falta de confiança e cumplicidade do filho para com ela.

Hubert, de sua parte, não suporta mais viver ao lado da mãe e encontra refúgio na casa do namorado e da sogra, que tem uma relação de carinho, harmonia, cumplicidade e companheirismo, bem diferente do ambiente que tem em sua própria casa. Também relaciona-se de maneira doce e amável com sua professora de francês, com quem divide momentos de pura poesia e amizade, lendo livros de grandes escritores e recebendo conselhos de como lidar com as dificuldades em casa.


Após tantos conflitos, Hubert é mandado pelos pais para um colégio interno, o que deflagra mais uma série de enfrentamentos e brigas. Revoltado, Hubert pega pesado e desfere sobre a mãe palavras chocantes. O que faz pensar que a relação de amor entre maẽ e filho jamais será recuperada. Depois de alguns meses, Hubert foge do colégio interno. Aparentemente exaustos do clima de guerra, Hubert e Chantal resolvem se encontrar para uma reconciliação definitiva. O ambiente não poderia ser mais propício, a casa onde Hubert morou com seus pais antes de se separarem. Lá, Chantal finalmente conhece Antonin e cercada por uma natureza exuberante, entre lembranças e recordações de uma vida feliz, mãe e filho fazem as pazes abraçados e recostados nas pedras cravadas em frente ao mar. A pergunta que fica no ar é: até quando?

EU MATEI MINHA MÃE é uma história que termina em aberto, porque na complicada fase da adolescência nada é definitivo, nem a bandeira branca hasteada entre pais e filhos em conflito. Mas o amor existe, e mesmo que seja difícil demonstrá-lo, ele está ali, suportando tudo em silêncio. 

Além da sensível e delicada história contada pelo talentoso Xavier Dolan de apenas 23 anos, o rapaz se mostra atento a detalhes que fazem toda a diferença. Ele põe um toque de sofisticação em sua direção, ao escolher uma trilha envolvente com solos de piano, cores vivas em uma fotografia exuberante, diálogos profundos, marcantes, closes estonteantes e um naturalismo que arrepia!

Amo Xavier Dolan! Amo EU MATEI MINHA MÃE!


domingo, 2 de dezembro de 2012

UMA DELICIOSA OVERDOSE DE REGINA DUARTE

Regina Duarte é visceral! Acho essa a palavra mais acertada para defini-la dentre tantos os adjetivos que poderia usar para elogiá-la. E digo visceral, não apenas como atriz, mas também como mulher, guerreira, batalhadora e apaixonada pelo ofício de atuar que ela é. Ela hipnotiza e comove apenas com seu firme e suave tom de voz, dentro e fora da ficção.

Fui hoje, conferir a exposição em sua homenagem, que proporciona ao espectador uma deliciosa viagem aos seus 50 anos de carreira. Poderia até ser suspeito pra falar, pois Regina é minha atriz preferida de todas de sua geração, mas falo com a boca cheia e sem nenhuma suspeita que está tudo maravilhoso. A exposição é um verdadeiro deleite para os fãs da atriz, como eu, e para qualquer pessoa que goste um pouquinho de novela e de arte em geral, vale muito a pena prestigiar esse trabalho belíssimo e caprichado que o curador Ivan Izzo preparou com tanto amor e carinho.

Ao entrar no Liceu de Artes e Ofícios aqui de São Paulo inicia-se um passeio fascinante pelos trabalhos de Regina, todos, sem exceção. São fotos, pessoais e profissionais, recortes de reportagens, cenas de seriados e peças projetadas em telões, entrevistas e cenas de diversas novelas espalhadas por televisores em cada cenário montado conforme a época em que foi exibido, objetos, figurinos, cartas, roteiros, camarins, tudo ao som das trilhas que embalaram cada trabalho marcante da atriz.

Ao adentrar o espaço já escuta-se "Futuros Amantes" na voz de Gal Costa, o que te coloca imediatamente no clima de uma viagem cheia de glamour e beleza, e passamos assim escutando "Tele-Tema", "Baby Can I Hold You", "Coração Pirata" e "Foi Assim" como se estivéssemos flanando pelo local. Fiquei lá quase três horas, mas a vontade era ficar muito mais pra explorar todos os detalhes que é impossível apreciar em apenas uma visita.

Visitar a Exposição: Espelho da Arte - A Atriz e Seu Tempo foi um programa bom demais, e o melhor, gratuitamente. Visitar o escritório de "Malu Mulher", entrar no espalhafatoso quarto da viúva Porcina de "Roque Santeiro" estar entre as sucatas da rainha Maria do Carmo e curtir o botequim da Raquel de "Vale Tudo" dentre tantos outros momentos, foi mágico, um  arrebatamento que se explica por uma grande "História de Amor" que tenho com a eterna namoradinha do Brasil.