domingo, 26 de outubro de 2008

CONTOS DE JEAN WYLLYS

Ele é simples e cortante como um punhal afiado. Posto aqui dois pequenos contos do polêmico ex-participante do bbb5, histórias curtas que mexeram profundamente com minhas emoções:


LUA VERMELHA

O Convento de Santa Tereza, os prédios do Comércio, a praça Castro Alves e a rua Chile jaziam ao som das águas da baía. A lua cheia, suspensa a altura do forte, ofuscava as luzes dos navios. Àquela hora da madrugada, ouvia-se apenas o som dos cães arrastando os sacos na calçada. O silêncio tomara conta da rua do Edifício Pequim, onde, debruçada sobre a janela, Lua (Lucineide era seu nome de batismo) olhava a paisagem. Coberta por um vestido cor de leite, que constratava com sua pele negra, e com uma passadeira na cabeça prendendo os cabelos espichados, ela parecia vestida para um dia especial. Embora sua vida fosse vazia de dias especiais e quase sem amor.
Até aquele dia, Lua só havia conhecido trabalho, privação, humilhação e tirania. Dormia no quarto pequeno e úmido da área de serviço e trabalhava nas ocupações dométicas das seis da manhã as onze da noite. Ouvia, todos os dias, a patroa dizer que as empregadas, apesar de tratadas como filhas, não valiam nada, eram preguiçosas, ladras e só sabiam namorar. Há doze anos morando em Salvador, Lua nunca havia beijado.
Os homens - até mesmo o porteiro do prédio, manco e evangélico - não olhavam para ela. Viera de Queimadas, uma terra seca lá para as bandas de Monte Santo, meio vendida pela mãe. Do lugar, ela guardava a lembrança apenas das estrelas da noite e da música de Luís Gonzaga no rádio de pilha vermelho. Em Queimadas, ela aprendera que à tarde o sol vai para o Japão. E a Lua, viria de lá?
Deixara de freqüentar a escola porque parecia invisível, ainda que não tivesse consciência de que fora por esse motivo. Não queria voltar para Queimadas, mas também não queria ficar em Salvador. Lua não sabia aonde ir. Sentada, agora, sobre o parapeito da janela, ela observava a Lua e tentava enxergar o dragão de São Jorge na bola branca. Uma tristeza preta pesou sobre o seu peito. Sentiu vontade de pegar a Lua. Lua, Lua, Lua, eu sempre quis você. O vento da noite soprava o vestido branco, que caía em disparada. As mãos e os pés a se debaterem no ar, e o estrondo a rasgar o silêncio da madrugada e a despertar o sono do dragão. Do décimo andar do edifício, onde seus patrões dormiam como eleitos, o vestido de Lua parecia uma flor branca desabrochada, contornada por folhas vermelhas que escorriam pela calçada, a refletir a Lua menstruada.


NADA SERÁ COMO ANTES

Em uma tarde morna, sob um céu rosado, eles se despediram no aeroporto que ainda se chamava Dois de Julho. Abraçaram-se demoradamente. Não disseram uma só palavra. Apenas as lágrimas davam conta do quanto um sentiria falta do outro. Os pais de João, aquele que partiria em breve, assistiram a despedida com bastante paciência. Em seguida, chamaram o garoto, pois o vôo havia sido anunciado. André, aquele que permaneceria em Salvador, deixou que o avião se espelhasse em seu olhar até sumir. Sentiu algo se apagar dentro dele. Toda despedida é um princípio de escuridão.
João e André se conheceram ainda no primário, mas só se tornaram amigos no ginásio. Os anos seguintes só serviram para aproximá-los ainda mais. Trocavam revistas em quadrinhos, fotografias, filmes e discos de pop rock. Sentavam-se próximos na sala de aula, permaneciam juntos durante os intervalos e, quando chegavam em casa, penduravam-se horas ao telefone, conversando entre si. Nos fins de semana, trancavam-se no quarto de um ou do outro para ouvir Legião Urbana e só saíam com as respectivas namoradas, se o casal amigo pudesse acompanhá-los.
Aliás, as namoradas foram problema em suas vidas. Enciumadas, elas não entendiam como dois homens podiam ser tão amigos e chegavam mesmo a insinuar que os dois eram veados. Quando isso acontecia, fosse com André ou com João, o namoro acabava imediatamente. Eles não amavam as mulheres com as quais se relacionavam, e, mesmo que amassem, acreditavam que a amizade era superior ao amor. Na verdade, João e André se amavam, pois a amizade nada mais é do que um amor despido de sexualidade, mais esperitual, portanto mais profundo.
Assim seguiram até o dia em que o pai de João conseguiu um emprego em uma corretora de imóveis em Miami, nos Estados Unidos. André tentou de todas as maneiras que João ficasse em Salvador. Chegou a oferecer sua casa para o amigo morar, mas o pai de João acreditava que o futuro profissional do filho estava no Primeiro Mundo. Resignados com a separação, prometeram que se falariam até o dia em que se encontrassem novamente. João garantiu que, assim que chegasse em Miami, ligaria para passar o telefone e que escreveria também.
Nos primeiros dias após a viagem, André não se afastou do telefone, esperando a ligação do amigo, que não veio. Atendeu ansioso a todas as chamadas telefônicas, mas, em nenhuma delas, João estava do outro lado da linha. Para preservar um mínimo de claridade na face, André resolveu acreditar que o amigo estava impossibilitado de ligar, que escreveria em breve. O carteiro, entretanto, só deixava na caixa postal extratos bancários. Passaram-se dois anos e André não recebeu nenhuma carta, nem uma ligação sequer do amigo. Nessa ocasião, passava os dias bêbado ao lado do telefone. Seus pais já não sabiam o que fazer para devolver o ânimo ao filho. Largado em um canto da sala, numa noite fria, André ouviu no rádio uma canção que dizia "eu já tô com o pé nessa estrada, qualquer dia a gente se vê, sei que nada será como antes, amanhã". Sorriu discretamente, guardando, na boca de sua noite, um gosto de sol.


Gostaria que comentasse qual o melhor na opinião de vcs e pq?

sábado, 25 de outubro de 2008

PAVOR DA SOLIDÃO

Falar de solidão é complicado, pode ser encarado por um lado positivo ou negativo. Particularmente prefiro encarar sempre pelo lado positivo, sou totalmente defensor do velho ditado "antes só do que mal acompanhado", por isso tenho mta dificuldade em compreender pq algumas pessoas tem verdadeiro pavor da solidão, e pra ñ se sentirem solitárias são capazes de cometer verdadeiros absurdos. Conheço mtas pessoas assim q se submetem a relacionamentos mornos, alguns gelados até, por ñ suportar a simples idéia de estarem sozinhos.
Tem o caso de um casal q é nítida a falta de afinidade entre os dois, um tem cultura, é super inteligente, tem o gênio forte, é caseiro, diz ser fiel e parece comandar a relação, enquanto q o outro, cultua o corpo, parece um pouco desprovido de inteligência, ñ se interessa mto por assuntos culturais, é chegado numa balada forte, trai, pede perdão e tudo continua igual.
Outro casal vive um relacionamento desgastante e abusivo. Se agridem física e verbalmente, gritam, esperneiam, quebram coisas, traem-se mutuamente, mas ñ se separam.
Nesses dois casos, será q ambos os casais estão juntos por amor? Não creio, aposto no medo da solidão. Essa idéia fixa q quase todos temos de arranjar um(a) parceiro(a) urgentemente, custe oq custar, ou então morreremos secos, sozinhos, sem ninguém, causa um pânico coletivo nas pessoas. Um pânico tão grande q é capaz de levar alguém a trocar de parceiro todas as noites, sem nenhum critério, como aconteceu com outro conhecido. Ele entrou num desespero tão grande após o término de um relacionamento já conturbado, q saía a procura de sexo e companhia nas noites frias e bem escuras da cidade onde mora, e se submetia a cada ser-humano difícil de acreditar. Tudo isso em troca de um carinho, de um olhar q pra ele significava mto, mas pra outra pessoa era só uma noite, aí nascia o dia e ele caía na dolorida realidade q criara, e qdo vinha a noite começava tudo outra vez. Uma degradação q acredito eu, continua até hj. Se ele é feliz? Se consegue aplacar a solidão com essa rotina noturna? ñ sei, mas desconfio q ñ.
É lógico q é maravilhoso ter alguém do lado dia a dia, ter uma companhia agradável pra todas as horas, poder contar sempre com aquela pessoa, ñ ser apontado como solteirão, encalhado, ter com quem dormir juntinho, saber tudo daquela pessoa, conhecer ela de cor e salteado e todas as delícias e agruras de uma relaçaõ a dois, mas a que preço?
Até qdo suportaremos traições, desilusões, decepções, agressões? Até qdo vamos abrir a mão de tudo oq realmente desejamos? Queremos tanta coisa, sonhamos, idealizamos tanto, esperamos paixão, romance, alguém q acima de tudo nos admire, q venere nosso caráter de forma ponderada mas encantada e no fim cedemos a esse pavor mórbido da solidão. Nos entregamos a paixões fugazes e jogamos nossos ideais no fundo gaveta, e se demorarmos mto pra tirá-los de lá a traça pode comer. Então num determinado momento descobre-se q estamos mais sozinhos do q nunca, embora acompanhados, e essa é a mais cruel e dilacerante solidão, pq está alicerssada sob o medo.
Oq é necessário entender com a máxima urgência é q solidão ñ é e nem precisa ser sinônimo de tristeza, depressão, vc ñ ser uma pessoa interessante, nada disso. Sei de pessoas interessantíssimas q são solitárias, ñ vivem rodeada de amigos nem pretendentes e são felizes, alto-astral, curtem a própria companhia, sabem apreciar o prazer de um bom vinho, preparam aquele prato especial pra matar a própria vontade, reconhecem o valor de assistir um filminho gostoso sem nenhum chato do lado pra botar defeito, viajam sozinhos aproveitam horrores, vão ao teatro, restaurantes, parques, andam de bicicleta, tomam sorvete, riem, choram e se aceitam plenamente assim como são, os solitários, estão por aí aos montes, e esses continuam firmes, com seus ideais, sonhando, a procura de paixões intensas, profundas, romances duradouros como diamantes. E enquanto ñ encontram ñ se desesperam pq sabem q são bons demais pra algumas pessoas e o único pavor q sentem é de perder o amor-próprio, isto sim, a pior das tragédias.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

LAÇOS DE SANGUE VERSUS LAÇOS DE AMOR

Não é uma questão de escolha, ou vc ama ou ñ ama, a única coisa absolutamente imprescindível é o cultivo. Cultiva-se plantas, flores e amores, esse talvez o mais importante. Tem pessoas q ñ gostam de plantas, nem flores (poucos acredito eu), mas sem amor quem consegue viver?
Falo de um amor maior, universal, transcedental, incondicional. Um amor q nada tem a ver com romance, namoro, sexo. Um amor mais forte q os laços sangüíneos, pq a biologia ñ influi em nada os nossos sentimentos.
Ama-se a mãe ñ por que ela ela te gerou, (afinal vc nem tinha consciência de q estava vivo nesse período), mas pq ela te alimentou, te deu banho, carinho, contou histórias, deu beijo antes de dormir, te levou no parquinho, aliviou suas dores (de barriga, ouvido, dente), te vestiu com as melhores roupas, se preocupou com seus estudos, com a formação de seu caráter e com sua felicidade. Cultivou dia a dia um amor incondicional.
Ama-se um pai pela força e a ternura q ele consegue transmitir através de atitudes dignas, honestas e claras. Por aquele braço forte q te pegou e colocou na "cacunda" brincando de cavalinho, pelos presentes trazidos daquela viagem, ñ pelos presentes em si, mas sim pela lembrança. Ama-se um pai qdo ele ñ demonstra vergonha em deixar as lágrimas caírem e assume q apesar de ser o chefe da casa é frágil e tbm fraqueja de vez em qdo, e ainda assim com todas as suas fraquezas parece um herói pra vc, vc sente orgulho em chamar esse homem de pai. Ama-se um pai qdo ele aceita vc do jeito q é, ñ impõe suas vontades, mas sim analisa, pondera e compreende q o filho eh um ser humano e ñ um boneco de argila moldado segundo seus próprios desejos. Cultiva assim um amor mtas vezes frágil e delicado, mas q pode tornar-se forte e denso por toda uma vida.
O amor pelos primos surge de uma convivência desde a infância, regada a mamadeiras, brigas por brinquedos, choros, implicâncias, descobertas mil, estende-se pela adolescência, onde os laços se intensificam, aí aparecem os segredinhos, namoricos, baladas, primeiros porres, primeiras decepções e frustrações compartilhadas, lágrimas e soluços amparados por um abraço afetuoso repleto de um amor q durará pra sempre, pois foi cultivado pelas lembranças mais ternas.
E assim é com tios, avós, irmãos e todos q são sangue do nosso sangue. Não adianta ser parente, é preciso estar presente de alguma forma, fazer-se presente, ter o forte desejo de disseminar o carinho, o afeto, a ternura no coração de quem vc quer q o ame. Se ñ pode estar por perto todo o tempo ou só de tempos em tempos, telefone, mande carta, e-mail, postal. Demonstre q vc quer mto aquele amor e q tem mto amor pra dar. Mas faça isso logo, antes q seja tarde demais.
Os amores da minha vida sempre foram intensos, e verdadeiros, mas nem sempre tive a sorte de ser cultivado por eles, por alguns sofri, por outros nem tanto. Tive uma infância solitária, meus únicos amores eram meu pai e minha mãe e ñ demorou mto pra q desconfiasse desse amor de pai. Era uma relação delicada, complicada, estranha até. Um pai sentir ciúme do filho com a própria mãe, no mínimo um sinal de loucura, demência ou qualquer coisa do tipo.
Sim, tive o braço forte me colocando na "cacunda" pra brincar de cavalinho, mas ñ tive o homem firme e terno de atitudes dignas e honestas, tive os presentes, mas ñ tive o herói, aquele pelo qual me orgulhar, ñ tive o pai q me aceitou do jeito q eu era. O cordão q era frágil se arrebentou. O q no início era uma desconfiança hoje é uma certeza, posso sentir pena, carinho, um tantinho de afeto, mas amor...
Temos o mesmo sangue e pra mim isso ñ significa nada.
Primos, tenho aos montes, tios tbm. O que sinto por eles? qualquer coisa, menos amor, simplesmente pq eles ñ me cultivaram, o sangue ñ sente nada, apenas corre pelas veias, enquanto o coração pulsa frenéticamente, sentindo quem de verdade nos ama e retribui a altura.
Amei e amo profundamente pessoas q encontrei pela vida e que ñ tem nem sequer uma gota do meu sangue, essas me proporcionaram momentos de intensa alegria, ternura e amor. Um amor q ñ se escolhe nem se impõe, simplesmente florece, regado por afeto, atenção, cumplicidade, interesse e uma vontade enorme de estar junto mesmo a quilômetros de distância.

sábado, 18 de outubro de 2008

REENCONTRO


Para Pablo

Saudade, era isso q eu estava sentindo qdo comecei a imaginar como seria se um dia nos reencontrássemos. Teríamos mto pra conversar. Qdo fui embora, éramos apenas dois garotos, passado algum tempo, hoje somos homens, mas sinto q algum resquício de pureza ainda persiste em nossos corações. Não conseguíamos entender o q nos fazia tão iguais e tínhamos medo de assumir q éramos tão intimamente diferente dos outros, por isso fingíamos sentir o q ñ sentíamos. Sorríamos do que ñ achávamos graça e ñ conseguíamos expressar em palavras o q transbordava dos nossos olhos.
Agora maduros, nos libertamos das amarras do preconceito e da recriminação. Seremos o q tivermos de ser, falaremos o q quisermos falar e faremos o q der vontade de fazer. Vou contar-te todos os meus segredos e desvendar os seus mistérios. Seremos transparentes um para o outro, e correndo na beira do mar com os pés encharcados pela água morna, os olhos à brilhar refletindo o azul do céu, os corpos levemente úmidos pelo suave calor q inva de a pele dourada e garaglhando até perder o sentido, entoaremos o mantra da felicidade.
Seremos contagiosos. Ninguém resistirá a nossa alegria de viver.
Dividiremos tbm nossas tristezas. Choraremos juntos para ficarmos mais fortalecidos. Seria tão bom vê-lo novamente. Sentir-me compreendido, poder revelar a verdade q há dentro de mim e q por tanto tempo ficou escondida. É tão triste ñ poder transformar em palavras o q grita o coração.
Só qdo nos reencontrarmos serei inteiramente eu e quero q ñ me escondas nada. Já estou saturado de pessoas hipócritas, pedantes e superficiais.
Experimentaremos o doce de nossas vidas, ñ teremos vergonha, medo nem constrangimento.
Por fim, empapussados das mais ternas sensações nos envolveremos num caloroso e demorado abraço, sentiremos nossos corações pulsando desesperadamente e descobriremos q o sonho sempre acaba, por mais real q possa parecer ele sempre acaba.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A BAILARINA ENVIDRAÇADA E O MALABARISTA PRATEADO

Eram de mundos completamente opostos. Íngrid, no alto de seus 15 anos era dona de uma pele tão alva que se ñ fosse seus lisos cabelos castanhos claro até os ombros e os olhos profundamente negros, passaria despercebida pelos outros tamanha a brancura de sua tez, quase transparente. Zé Luís tinha um ano a mais, 16. Loiro, de olhos azuis, era franzino, muito magro mesmo e tinha a pele bastante castigada pelo sol, o que o deixava com um tom meio rosado.
Os dois se viam todas as semanas, pelo menos 3 vezes, mas nunca trocaram palavra, apenas olhares de encantamento e admiração. Ela, uma exímia bailarina, filha de pais mto ricos, nascida em berço de ouro, cercada de todo mimo e luxo que podia existir, super protegida ao extremo como se fosse uma boneca de louça. O motorista levava e buscava-a em todos os lugares, inclusive ás aulas de ballet, todas as segundas, quartas e sextas. A escola ficava num prédio todo envidraçado e altíssimo, as aulas eram no terceiro andar e dali Íngrid tinha uma visão panorâmica de toda a movimentada rua.
Ele, nasceu e se criou em meio a toda a marginalidade de uma das favelas mais perigosas da cidade e começou a ser explorado pelos pais desde mto pequeno. Depois de algum tempo oferecendo balas e doces nos sinais de trânsito, decidiu aprender algo q realmente pudesse chamar a atenção das pessoas, assim tornou-se um malabarista excepcional. Aos 11 anos engrossava a renda da família com seus belíssimos malabares e atualmente havia incrementado sua performance cobrindo a rosada pele com uma tinta prateada, dos pés a cabeça.
Num dia qualquer, enquanto olhava distraída através da vidraça, Íngrid reparou em um brilho q ofuscava sua visão com movimentos ágeis e sincronizados, colocou uma das mãos sob a testa pra tapar o reflexo do sol e conseguir enxergar melhor. Naquele dia descobriu o malabarista prateado, ficou dispersa por alguns minutos admirando a dança brilhante q o malabarista fazia com as mãos e os braços de uma forma quase mágica.
Foi tbm num dia comum como tantos outros que Zé Luís ficou paralisado ao reparar na beleza delicada e graciosa da bailarina envidraçada, sua roupa tinha um tom de rosa esmaecido profundamente agradável e seu corpo fino parecia uma pluma levada por uma brisa suave de um lado para o outro em passos q ele ñ entendia, mas q amava observar á distância como um telespectador secreto e encantado.
Essa admiração mútua, distante e silenciosa durou alguns meses. Íngrid começava então a sentir uma enorme vontade de chegar perto, de falar e tocar no malabarista prateado. Zé Luís tbm passava a sentir a mesma necessidade, de ouvir a voz, sentir o perfume e o toque de sua bailarina envidraçado. Demorou pouco pra entenderem q estavam sentindo pela primeira vez, o amor, e embora mto jovens, entendiam tbm q existia um abismo imenso entre eles e pela pouca idade q tinham era um abismo quase intransponível, pois ñ eram fortes o suficientes para brigar por esse amor e além do mais quem disse q o sentimento q nutriam era recíproco?
Íngrid passou a acreditar q parecia boba, infantil, fútil e mimada demais aos olhos do malabarista prateado, pois ele era tão independente, trabalhador, forte, esperto e devia achá-la uma dondaca inútil. Zé Luís pensava ser tão insignificante perante tudo o que sua bailarina envidraçada representava: luxo, elegância, inteligência, beleza, uma verdadeira princesa, q jamais ousaria imaginar q algum dia ela o veria com outros olhos.
E assim, mesmo completamente apaixonados, Íngrid e Zé Luís sucumbiram aos preconceitos sociais e silenciaram ao primeiro amor q sentiram na vida, ñ descobriram nem seus nomes e qdo recordam o passado lembram apenas q amaram uma bailarina envidraçada e um malabarista prateado.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

CHARME E BELEZA

" O charme é mais importante que a beleza. Quando você envelhece a beleza pode acabar, mas o charme não acaba nunca, ele acompanha você até o fim". É mais ou menos isso q diz a personagem de Audrey Tautou para seu tímido e desajeitado admirador qdo ele se surpreende ao ouvi-la elogiar seu charme, no fofo e divertido filme Amar... não tem preço.
Eu concordo plenamente. A beleza eh efêmera e vazia se ñ vier mto bem acompanhada de inteligência, simpatia, generosidade, elegância e uma boa dose de charme. O tempo é cruel e devastador com aqueles q tem como única qualidade a beleza física, vc pode puxar por todos os lados, ele ñ perdoa mesmo. Agora, uma pessoa charmosa é praticamente irresistível. Graças a Deus q o dom de ser charmoso ñ depende da genética, tem mais a ver com postura, uma postura natural, leve, de bom gosto e um toque de sofisticação diante da vida.
Conheço pessoas belíssimas q enchem os olhos de qualquer cristão, mas qdo abrem a boca quase me levam as lágrimas, de tristeza, desespero, angústia ou horror. Como podem ser tão banais, vazias, fúteis, inúteis e ao mesmo tempo pretensiosas, arrogantes e acharem q estão "abafando"?
Em contrapartida, os charmosos "abafam" de verdade, em qualquer lugar q aparecem causam um certo frisson, são em sua maioria interessantes, cultos, divertidos e uma companhia deliciosa.
O charme ñ se defini em uma coisa só, tem várias nuances, pode estar num sorriso, num jeito de olhar profundo ou misterioso, no jeito q o cabelo é penteado pro lado ou como balança ao sabor do vento. Pode ser uma voz macia, suave, um caminhar delicado ou firme, o jeito como se mastiga, como se saboreia uma bebida. São inúmeros matizes, e qdo uma única pessoa consegue reunir todos eles, aí realmente fica difícil ñ babar.
Velhos são charmosos qdo preservam suas rugas com elegância e dignidade, qdo sorriem e a luz de seus sorrisos iluminam a face marcada pelo tempo. Gordos são charmosos qdo dançam sem vergonha do q as línguas maldosas vão comentar, qdo contam piadas q faz todos gargalharem e qdo se amam tão profundamente q ñ faz a mínima diferença o q os outros pensam a respeito das gordurinhas a mais q eles preservam com tanto carinho. "Nerds" são charmosos qdo explicam as equações e fórmulas mais absurdas para nossas pobres cabecinhas como se tivessem fazendo um sanduíche ou qdo ajeitam o óculos daquele jeito todo desengonçado.
É isso, o charme está ao alcance de todos, mas nem todos conseguem se apropriar dele. Tbm está mto nos olhos de qm vê, oq é charmoso pra mim pode ñ ser charmoso pra vc, mas isso já é uma outra história.
A questão é: vc prefere ser charmoso ou bonito? Se for os dois vc eh quase perfeito, está com a faca e o queijo na mão, vá em frente o mundo eh todo seu.
Se for apenas bonito, sinto mto, seus dias estão contados, embora vc pense q eh o máximo e ainda demore um pouquinho pra se dar conta disso.
Agora, se for charmoso, parabéns. Saiba usar seu charme da melhor maneira q puder, seduza as pessoas, agarre todas as oportunidades e abocanhe a vida com todos os dentes espalhando esse brilho reluzente q vc deixa por onde passa.

MAIS UMA DA MARTHA

Quero deixar registrado mais uma crônica que achei o máximo, da maravilhosa Martha Medeiros:


Temos escolha

No interessante livro HOMEM LENTO, de J.M. Coetzee, há uma passagem que me marcou. É um confronto verbal entre o personagem principal do livro, um homem de mais de 60 anos que teve uma perna amputada depois de um acidente de bicicleta, e um garoto adolescente. Ambos estão no sombrio e decadente aparatamento do velho, que resmunga: "Eu fui ultrapassado pelo tempo. Este apartamento e tudo o que existe dentro dele foi ultrapassado pelo tempo". O garoto pergunta se ele não gosta de coisas novas. O velho (que nem é tão velho) responde: "Isso tudo um dia foi novo. Tudo no mundo um dia foi novo. Até eu fui novo. Na hora em que nasci, eu era a coisa mais moderna da face da terra".
Nada é tão moderno quanto nós ao nascermos. Sublinhei.
Prosseguindo o diálogo, o garoto então comenta, como quem não quer nada, que um dia foi visitar o avô para mostrar como funcionava um computador. O avô era bem velho e também tinha sido ultrapassado pelo tempo. Hoje fazia compras pela internet, enviava e-mails, recebia fotos.
"E daí?", pergunta o mal-humorado sem perna.
"Daí que dá pra escolher".
Eis uma frase, uma verdade, um verso: dá pra escolher. Todo dia, ao levantar da cama, eu procuro me lembrar: dá pra escolher. Nem eu nem você estamos jogados ao léu, nas mãos do destino. Não temos controle sobre tudo, mas dá pra escolher entre ter amigos ou viver recluso, dá pra escolher entre privilegiar um amor ou ter vários casos superficiais, dá pra escolher entre participar ativamente de um projeto que alavanque nosso bem-estar ou ficar de fora apenas criticando, dá pra escolher entre se refugiar num lugar tranqüilo ou aprender a lidar com o stress urbano, dá pra escolher entre levar a vida com bom-humor ou levar a vida na ponta da faca.
Tudo é uma escolha, inclusive ser velho ou ser jovem, e isto não se resolve apenas numa clínica de estética. Todas as nossas escolhas passam pelo estado de espírito. É ele que vai determinar se vamos viver uma vida mais simples ou mais complicada, mais solitária ou mais social, mais produtiva ou mais lerda. Dá pra escolher entre ser carnívoro ou vegetariano, entre fumar ou não, entre correr na praia ou ficar um pouco mais na cama, entre jogar paciência ou ler um livro, entre amores serenos ou amores turbulentos. Se a escolha será acertada, aí já é outro assunto, o futuro vai dizer. Pensando bem, acertos e erros nem estão em pauta aqui. O que importa é ter consciência de que ficar sentado esperando que a vida escolha por nós não é uma opção confortável como parece. Descansados da silva, vem o tempo e crau: nos ultrapassa.

É ou ñ é a mais pura verdade?

terça-feira, 14 de outubro de 2008

AQUELE TEMPO QUE NÃO VOLTA MAIS

Para Fernanda e Amanda

Nos primeiros dias, semanas e meses foi difícil, doloroso até, a saudade era cortante, tantos momentos compartilhados e de repente, tudo tinha chegado ao fim. Restava então, apenas as lembranças. Lembranças de sorrisos, gargalhadas, olhares maliciosos q diziam tudo qdo ñ podíamos verbalizar, gestos e sinais q só nós entendíamos, os palavrões mais cabeludos q a gente só falava dentro de casa, ou em público, mas bem baixinho pra ñ escandalizar aqueles q achavam q éramos puros e inocentes (hahahahaha). E como era bom falar aqueles palavrões né? As festinhas dadas no quintal de casa; as pizzarias; os barzinhos; os videokês; as reuniões nas casas de amigos, alguns q nem eram tão amigos assim, mas a gente aproveitava o momento e mtas vezes ainda saía falando mal e tirando sarro dos anfitriões (q uó!!!!!). Os telefonemas pra ficar só falando besteira; os momentos mais intimistas qdo ficamos só os três ouvindo música deprê ou assistindo um filme no video-cassete (ainda ñ existia o dvd), depois comíamos aquele struddel maravilhoso de frango ou presunto e queijo, e eu parecendo um esfomeado; as danças enlouquecidas ao som do abba no meio da sala. Os apertões; os abraços; os carinhos nem sempre demonstrados fisicamente, mas por um gesto, um olhar, uma palavra doce. O ciúme dos namorados q ñ suportavam uma amizade tão escancaradamente íntima (eles nunca entenderiam); a cumplicidade silenciosa; as sessões de cinema; as opiniões sobre roupas, sapatos, cortes de cabelo; o consolo pela dor de um amor ñ correspondido; os casamentos; o senso de humor ácido e irônico q nos era tão peculiar e até as discussões, quase sempre sem mta importância.
São mtas lembranças. Toneladas de recordações e uma saudade q o tempo foi cicatrizando aos poucos, mas q em determinados momentos lateja, ñ deixando esquecer q as cicatrizes são eternas, assim como a própria saudade q neste exato momento lateja, lateja, lateja...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

NOITE

Depois de um calor abrasador. Uma verdadeira sauna ao ar livre. Caiu a chuva mansa e lenta. Poucas horas depois, o dia sufocante deu lugar a noite fresca e límpida. Era simplesmente delicioso sair na rua e sentir aquele perfume indescritível, proveniente das folhas das árvores q balançam levemente ao sabor do vento suave q chega depois de um dia com tantas variações de temperatura, e o cheiro do asfalto misturado com a terra molhada, parecia q o céu se despia e as estrelas abriam um sorriso largo abençoando a cidade depois de mais um dia infernal. E a noite convidava. Convidava a caminhar, pura e simplesmente, apreciando seu prefume inebriante, convidava a tomar um choppe no barzinho da esquina; a sentar no banco da praça; a dançar sob a luz do luar; a fazer um luau; a namorar tendo apenas as estrelas por testemunha; à sonhar, fechar os olhos suavemente, aguçar todos os sentidos, deixar a brisa acariciar a pele vastamente e esquecer de tudo de ruim q existe, lembrar q a natureza eh sábia e poderosa e nos proporciona prazeres tão simples e magníficos como esse, uma noite recompensadora depois de dias tão insuportavelmente quentes.
Nessa noite consegui entender com mais clareza pq me considero um ser noturno, ñ tem nada a ver com ser punk, gótico, depressivo ou coisas desse tipo, tem mais a ver com ser romântico, sonhador. A noite proporciona várias possibilidades. Liberdade, inspiração, paixões, beijos, esperanças.
Liberdade de ser quem vc realmente eh. Quem ñ tem medo de críticas e julgamentos e tá se lixando para o que os outros vão pensar ou falar, eh oq eh nas 24 horas do dia e eh mto mais feliz e realizado assim. Mas para aqueles q ainda ñ entenderam o poder maravilhoso q exercem os q pisam e passam por cima de toda e qualquer hipocrisia humana, a noite eh a única forma de se libertar e tirar a máscara colocada até o sol se pôr.
Inspiração pra compôr uma música, escrever um poema, pintar um quadro, esculpir. A arte em geral vem com mais força e delírio qdo a noite cai.
Paixões, secretas, escancaradas, misteriosas, tranquilas, voluptuosas, efêmeras em qualquer forma e intensidade brotam no escuro, de noite.
Beijos roubados, consentidos, lentos, de tirar o fôlego, sempre em sua maioria, pelo menos os mais gostosos são dados sob a luz da lua, debaixo de um céu estrelado. É assim q descrevem a maioria dos livros, filmes e novelas.
E a esperança de viver tudo isso intensamente parece q fica mais forte qdo a noite chega e todos parecemos tão iguais diante do mundo pq a noite é mágica e se torna fada-madrinha de todas as cinderelas, sejam homens ou mulheres, q acreditam q o amor um dia chegará.
À noite todos os gatos são pardos.
À noite tudo pode acontecer.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A CRÔNICA

Lendo uma crônica de Martha Medeiros, uma de minhas escritoras-cronistas preferidas, entendi mais uma vez pq sou tão fascinado por ela. Martha eh simples e profundo, escreve de forma clara e extremamente tocante. Gosto qdo ela disserta sobre relações humanas e coisas do coração, qdo fala de tudo q nos sufoco, angustia e faz a gente se arrepiar de emoção, mas até falando de coisas mais amenas Martha eh The Best. Claro q ñ concordo cegamente com tudo oq ela escreve pq ñ sou seguidor de Martha Medeiros e sim um fã ardoroso e qdo ñ gosto de alguma coisa dela apenas comento baixinho comigo mesmo 'hoje eu ñ gostei Martha', como se fosse uma amiga íntima da qual a gente concorda ou discorda nos assuntos qdo se bata um papo descontraído. Martha Medeiros eh assim, tem o dom de fazer seus leitores sentirem-se como se fossem amigos mto próximos e atinge a alma de cada um como se fosse uma sábia poderosa, no entanto demonstra o tempo todo por meio de suas crônicas e entrevistas q ñ eh nada disso, eh simplesmente alguém mto culta e inteligente completamente apaixonada pelo q faz e faz mto bem. Ainda assim, pra mim, Martha Medeiros tem um quê de divindade, talvez seja pelo fato de ela ter uma profissão tão maravilhosa, ser tudo oq eu qria ser em termos profissionais, ela me passa a impressão de ser completa e realizada. Parodiando o filme com John Malkovich, "Quero ser Martha Medeiros". Sempre pensei q se um dia topasse com ela em algum lugares teria um frenesí de emoção e ñ iria parar de falar o qto sou seu fã, mas um belo dia encontrei com ela em uma livraria e tremi na base, fiquei me contorcendo por dentro criando coragem pra ir cumprimentá-la mas ñ consegui, a timidez e o pavor de parecer um bobalhão na frente dela foram mais fortes do q eu en tão fiquei ali sentado com um livro na mão vendo a oportunidade escapar, foi uma sensação tão estranha ver uma pessoa q parece tão íntima de vc mas ter medo de chegar perto pq sabe q ela nem sonha com a sua existência, mas tudo bem deixei escapulir a chance de q ela ficasse sabendo q eu existo, mais um fã apaixonado. Quem sabe na próxima. Toda essa longa introdução eh pra deixar registrado aqui uma das mais recentes crônicas da Martha q me encantou. Segue abaixo.


O sempre no nunca

Vivemos num mundo de variados prazeres mundanos, sensoriais, transcendentais, mas poucos são tão valiosos qto ler um livro bom. O que vem a ser tal coisa? Cada um tem seu conceito sobre livro bom. Os meus livros bons são aqueles em q eu ñ consigo parar de sublinhar trechos. É aquele q me faz ter vontade de voltar logo pra casa e me enfiar na cama com ele. É o livro q já começa a me dar saudades antes mesmo de acabá-lo. E qdo termino, em vez de pegar outro, qro começar a lê-lo outra vez. FANTASMA SAI DE CENA, de Philip Roth, ñ foi pra mim um livro bom, foi fora de série. O que escolher para ler em seguida e ñ deixar o êxtase se esvair? Peguei A ELEGÂNCIA DO OURIÇO, da francesa Muriel Barbery. Não chega a ser um Roth, mas eh um livro especial.
Duas narradoras q moram num mesmo prédio elegante de Paris: uma é a zeladora, q eh culta, mas para os inquilinos se faz de ignorante, pq eh isso q os esnobes q moram esperam de uma zeladora (são impagáveis os momentos em q ela se esforça para falar errado de propósito, pra ñ dar pinta da sua erudição), e a outra eh uma espertíssima menina de 12 anos, filha de um deputado e de uma dondoca, e despreza o universo fútil em q vive. Em algum momento, claro, essas duas avis raras q habitam o mesmo endereço francês irão se cruzar, mas , até lá, nos oferecem uma narrativa deliciosa, cada qual na sua. Quando finalmente se encontram na história, bom, aí fazem a festa do leitor.
É um livro filosófico, inteligente e engraçado. Ddesconstrói certas verdades estabelecidas e, de lambuja, ainda reserva um pouco de poesia nas últimas páginas. Ou muita poesia. Diante da dor dilacerante, o que buscar? O belo. Diante do impossível, diante de uma vida inútil, diante daquilo q ñ aconteceu nem acontecerá, o que nos compensará? Um único instante sublime. Em todo "não", há um filete de "sim". Em toda descrença, há uma possibilidade de certeza. é o que a autora chama, no livro, de "o sempre no nunca". Basta a lembrança de um piano q tocava em determinado momento de angústia, basta um pedaço de pano colorido q se destacou na hora de reunir as roupas de morto, basta uma frase especial de uma amiga qdo a noite prometia ser um suplício, e a nossa desilusão eterna se atenua. Para a maioria das pessoas, os dias correm e parece q os sonhos nunca se realizarão. Nunca. Mas em meio a esse nunca, há de ter um pedacinho afetivo de sempre. Aquela lembrança, aquela foto, aquela música, aquele instante q ficou alheio ao tempo, imortal. O sempre no nunca. Há em tudo, basta um pouco de doçura para reconhêce-lo.


Isso eh Martha Medeiros. Não preciso dizer mais nada né.

Obs.: A crônica COCA-COLA COM LIMÃO E GELO de minha autoria eh bastante parecida com esta da Martha, mas ñ eh uma cópia viu, foi apenas uma coinscidência. Quem sabe um dia eu chegue aos pés dela, hehehehehehe...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

COCA-COLA COM LIMÃO E GELO

A vida eh feita de pequenos e grandes momentos. Os grandes momentos são óbviamente lembrados com frequência e grande empolgação por quem os viveu mas hoje eu quero falar de pequenos momentos, aqueles q mtas vezes parecem insignificantes e passam despercebidos aos olhos da maioria mas tornam-se marcantes e inesquecíveis pra qm sente saudade e tem a sensibilidade à flor da pele. Pequenos momentos significam mto para aqueles q entendem q uma vida eh construída de pedacinhos, como um enorme quebra-cabeças com inúmeras e minúsculas peças, todas indispensáveis para q a imagem fique perfeita. Nenhum momento da vida eh completamente insignificante ou dispensável, mesmo aqueles q parecem ser. Tudo contribui pra formar nossa identidade, nossa personalidade, aquilo q somos por dentro e se reflete por fora. Pode ser marcante um desenho da infância; um bicho de pelúcia ou outro brinquedo qualquer; uma comida; uma peça de roupa; um sorriso recebido na hora certa, de alegria, de flerte ou cumplicidade; uma dança com alguém especial ou sozinho mesmo, ñ tem nada melhor do q dançar qdo se está feliz e ñ importa o jeito, pode ser desengonçado, correto ou exímio dançarino, esses momentos costumam ser sempre inesquecíveis qdo vc tira os pés do chão e nem se importa com quem estah olhando, se eh q tem alguém olhando, a menos q vc esteja em um concurso de dança, aí já são outros "quinhentos", um concurso de dança eh um momento inesquecível mas eh um grande momento e ainda ñ acabei de listar apenas os pequenos momentos q eh o ponto chave desta crônica. Um filme pode ser marcante, pela história ou pelo momento e a companhia com qm se assiste, um amor ou uma turma de amigos, tudo depende do estado de espírito, até mesmo sozinho se pode ver um filme e aquele pequeno momento de introspecção e solidão tornar-se marcante pra vc. A lembrancinha de uma viagem; um afago no rosto; a mão enxugando suas lágrimas qdo vc ñ conseguia parar de chorar; o convite pra uma balada q vc qria mto ir mas ñ tinha um centavo no bolso; aquela música q vc nunca mais ouviu; a foto amarelada guardada há anos tirada num barzinho q vc foi qdo fez aquela excursão pra uma cidade histórica no interior de Alagoas chamada Xingó e onde conheceu o Alexandre, aquele amigo incrível q tinha tudo a ver com vc e ali aconteceu um dos pequenos momentos mais marcantes e inesquecíveis.
O Alexandre q era quatro anos mais velho, portanto um pouquinho mais experiente, pediu uma coca-cola com limão e gelo e vc com apenas 15 anos, no auge de sua inocente e implacável adolescência achou o máximo por nunca ter visto ninguém tomar coca com limão e gelo, e ficou encantado e admirado, pensando como aquele cara legal era inteligente e interessante e culto e seu mais novo amigo, o amigo q vc esperou durante tanto tempo e q agora estava ali na sua frente tomando coca-cola com limão e gelo e te ensinando sem saber q era super gostoso, e vc pensou q poderia aprender mto mais coisas, tão legais qto essa e foi feliz, foi mto feliz, foi escandalosamente feliz naquele momento. Um pequeno e insignificante momento, pra todos aqueles q estavam a sua volta na mesa, ñ pra vc. Pra vc foi a descoberta de um amor profundo, baseado numa amizade pura e verdadeira e de q ficou mto tempo sem saber o qto eh gostoso coca-cola com limão e gelo.