quarta-feira, 4 de julho de 2012

MILHARES DE SAUDADE

Tenho saudade de tudo! De cada momento, de cada sensação, de cada pequeno detalhe que vivi em todas as vidas que já tive. Tenho saudade de pessoas, de aromas, de sabores, de lugares, de cores e texturas. Tenho saudade de instantes e de tempos. Tenho saudade daquela saudade que um dia acaba, pois essa faz tempo que não sinto, as minhas têm sido intermináveis. 

Tenho saudade de ser criança, do Show da Xuxa, da minha inocência. Tenho saudade dos primeiros livros, das primeiras leituras, da senhorinha meiga que morava num prédio ao lado do meu em Porto Alegre e me presenteou com minha primeira coleção dos Contos da Velha Europa. Eram 6 livros, e em cada data comemorativa ela me presenteava com um ou dois, sempre tão doce e carinhosa, acho que devo a ela esse amor pela leitura e consequentemente pela escrita. Ela, aquela senhorinha da rua Miguel Tostes que nem lembro o nome, plantou em mim a primeira sementinha da paixão pelo fabuloso e fascinante mundo das letras. Eu, que ainda nem sabia ler, corria até minha mãe ansiosamente com o livro nas mãos, pedindo pra que ela lesse logo. Então, ela largava as panelas no fogão, sentava em uma cadeira no meio da cozinha. Eu sentava no chão recostado a seus pés, encostava a cabeça em seus joelhos e começávamos uma bela viagem, que durava alguns instantes, que pra mim pareciam horas. Depois ficava remoendo dentro de mim aquelas estórias e suspirando pelos cantos, sonhando acordado. As vezes a contação ocorria na cama ou no sofá da sala, mas são os instantes no chão da cozinha minha recordação mais cálida, e é desses que sinto mais saudade!

Tenho saudade de Vale Tudo e do grande mistério: quem matou Odete Roitman? Tenho saudade do Banco Imobiliário, meu jogo preferido de todos os tempos, e das longas tardes que passava jogando só com meu pai, ou com um grupo enorme de pessoas. Tenho saudade da Queila, minha primeira amiguinha de infância, da primeira série. Depois de adultos nos reencontramos, mas ela já era outra pessoa, nem um pouco sentimental, nem um pouco saudosa da nossa amizade tão bonita. O que me fez sentir mais saudade de quando ela tinha 7 anos e nenhuma vontade de tê-la reencontrado adulta, queria ter guardado pra sempre a imagem da menina tão querida e gentil, mas apesar de, ainda sinto saudade do que fomos um dia. Saudade da professora Antônia, que me ensinou a ler. Saudade do dia em que assisti Super-Xuxa Contra o Baixo Astral na escola e cheguei em casa super empolgado querendo contar todos os detalhes do filme pra minha mãe, enquanto ela esfregava roupa no tanque.


Tenho saudade da casa de dois andares da Tomázia, que pra mim parecia uma mansão de novela das 8, passei bons momentos da minha infância ali, brincando de Barbie com a Fernanda Lino, deixando meu pai de cabelo em pé. Tenho saudade da Ísis, minha melhor amiga da terceira e quarta séries. Saudade da biblioteca da Escola Tamandaré, onde passava os melhores momentos dentro do colégio. Saudade da empada da cantina da d. Amália, nunca mais comi uma empada igual. Saudade da professora Josi, estagiária da terceira série, filha da d. Amália, jovem e linda, doce, jamais conseguirei esquecer aqueles olhos verdes brilhantes e seu jeito de princesa que me encantavam. Saudade das aulas de Educação Física da quinta série e do professor Miguel, ah o professor Miguel!

Tenho saudade da copa de 1994 e das ruas de Santos lotadas pra comemorar o tetra. Tenho saudade daquelas férias, quando conheci o Alex e vivi um delírio de amor, chorando pela impossibilidade do mesmo ao som de Maria Bethânia cantando "Você". Saudade da fazenda no interior de Minas Gerais, onde tomei leite tirado direto da vaca, morninho e espumoso, sentado em cima da cerca. Saudade do banho de rio. Saudade do Renato e de tudo o que a gente viveu. 

Tenho saudade das sessões de cinema com meu pai, que despertou minha paixão pela sétima arte. Filmes como Lobo, Filadelfia e A Época da Inocência marcaram minha pré-adolescência. Tenho saudade de Aracaju, dos amigos e do amor que lá encontrei, das situações que vivi, quase todas de uma emoção incomparável. Saudade do jeito doido e solitário da Carmem, sempre meio perdida, sem rumo na vida, mas cheia de graça e alegria, sempre pronta a arrancar uma gargalhada de alguém. Que saudade eu sinto dela! Ser-humano incrível! Impossível descrever em palavras o prazer e a energia de se estar perto dela. Saudade da Cristiane e do Francisco. Saudade da Riso, que fazia juz ao nome, sempre divertida. Saudade dos meus eternamente amados Alexandre e suas festas incríveis; Pablo e uma misteriosa sinergia que nos ligava, que só consegui entender mais tarde quando já estávamos afastados; Edvan e seu humor ácido; Daniela e sua arte da dança; Cléber e seu jeito compreensivo; Samuel, um amor impossível e finalmente Diana e Suzana com seus corações imensos agregando sempre mais e mais pessoas ao nosso maravilhoso clã. Saudade de todos os momentos que dividimos, em qualquer lugar, em qualquer circunstância, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé. Saudade da minha prima Roberta e da época que éramos irmãos, dos segredos confidenciados e dos amores alcovitados.

Tenho saudade dos meus primeiros rascunhos, quando escrever era apenas uma brincadeira e não uma paixão abrasiva e irreversível. Tenho saudade de Londrina. Do apartamentinho simples, mas aconchegante na rua Raposo Tavares. Saudade das descobertas que fiz lá. Da sexualidade aflorando lentamente com sabor de proibido. Saudade do Parque Igapó, do Moringão, do Super Muffato. Saudade dos melhores anos no colegial na Escola Professor Vicente Rijo. Saudade das situações vividas com Kássima. Da descoberta de uma amizade profunda e pura com Nadege, amizade que me proporcionou os melhores momentos da minha vida. Momentos de deliciosas bobagens sem fim, de carinhos e afagos, de confidencias, lágrimas e abraços. Saudade das peças na escola, da semana cultural, da politizada Larissa com seus papos intelectuais. E o que dizer da exuberante Vívian, com sua sede de viver até a última gota? Tenho saudade do dia em que me levou no Valentino depois do aniversário da Nadege em maio de 2001, e me apresentou pra um monte de gente interessante, e eu super tímido e ao mesmo tempo fascinado com aquele mundo novo que se abria diante de meus olhos. Saudade da tua atitude, da tua coragem, do teu jeito de viver sem se importar com o que os outros pensavam e sem medo de ser feliz. Saudade de você repetindo pra mim o tempo todo sua frase favorita: "se joga e acredita..." Parece que tô ouvindo você falando agora e soltando uma gargalhada alta em seguida. Que saudade dessa sensação, do som da tua gargalhada! 

Tenho saudade das ligações pro disque amizade, onde me meti em situações engraçadas e as vezes constrangedoras, mas também conheci o Mike, que estava no Brasil, vindo da Inglaterra pra passar uns dias com a família. E nos encontramos na Biblioteca Pública, depois passeamos pelo parque e tomamos suco de fruta natural, o meu era de pêssego, o dele não lembro. Sinto saudade da Luzia, minha grande amiga Luzia, grande em todos os sentidos. Saudade dos nossos filmes, dos nossos churrascos, das nossas partidas de buraco até altas horas da madrugada. Saudade do seu sarcasmo mordaz e ironia irresistível, seu ar de deboche, seu humor impagável. Saudade da sua comida, seu tempero maravilhoso, em especial aquele inesquecível salmão com alcaparras. Saudade do bolo prestígio que eu fazia e que era obrigatório nos nossos finais de semana, acompanhado de uma boa xícara de café, bem forte, bem quente e quase amargo. Saudade de sentir que você me entendia só com o olhar. Saudade da nossa anarquia. Tenho saudade da Cláudia e suas piadas sujas, de seu jeito pacificador, de sua esperteza e de suas massagens incríveis! Saudade do jeitinho bobo e ingênuo da Martinha. 

Tenho saudade dos dois dias que fiquei trancado no quarto lendo O Terceiro Travesseiro ao som de Adriana Calcanhoto, chorando baldes e sonhando com um amor igual ao do livro. Saudade de passar as noites na janela do meu quarto, esperando por algo que me tiraria daquela vida claustrofóbica, eu era feliz e não sabia. Sinto saudade da Vânia, sempre tão charmosa com seus cortes de cabelo curtinhos e modernos, sua fome de liberdade e seus quitutes deliciosos. Tenho saudade das filhas dela também, Amanda e Fernanda Zambrin. De falar um monte de besteiras, das nossas brincadeiras de mímica, das reuniões sociais e dos romances tumultuados. 


Sinto saudade de Porto Alegre e das coisas especiais que vivi por lá. Saudade do reveillón de 2003 com Marcelo e Léo. Saudade das histórias loucas e engraçadas da Maristela. Saudade do Rafael e do Eduardo e de nossos programas a três, saudade de ouvir Elis Regina com eles. Tenho saudade da orla de Ipanema, do dia em que fui com meu pai jantar num restaurante com música ao vivo e o cara cantou "Lenha" do Zeca Baleiro e "É isso aí" de Seu Jorge e Ana Carolina, um momento tão simples que me deixou tão feliz. Tenho saudade de ler a Zero Hora de domingo e encontrar na última página do caderno Donna a crônica dominical da Martha Medeiros, a escritora do meu coração! Saudade de assistir a gauchada linda, com suas garrafas térmicas e cuias de chimarrão, passeando pelo Parque da Redenção. Saudade da Mara e do Paulo que me proporcionaram meses de uma adorável convivência, sempre honestos, humildes e generosos. Sempre maravilhosos! 

Sinto saudade do Ricardo e do amor imenso que me fez sentir. Um amor mais uma vez não correspondido, mas com ele vivi uma estória digna dos melhores folhetins, com direito a crises de ciúme, brigas, triângulo amoroso, revelações bombásticas, beijos prometidos, encontros inesperados, lágrimas e separações. Saudade de sentir aquele frio na barriga. 

Tenho saudade do ano de 2008, quando conheci Murilo e compartilhamos tanta coisa bacana juntos: baladas, conversas, jantares, passeios, planos e sonhos. Saudade da Rita, da cafeteria Media Luna, dos filmes incríveis que assisti naquele ano: Um Beijo Roubado, Do Outro Lado, O Signo da Cidade, Batman - O Cavaleiro das Trevas. Saudade da novela A Favorita, Flora e Donatella. Saudade de Bianca e Lauren, da Bruna e nossos papos descontraídos ao som de um jazz.

Tenho saudade de minha primeira vez em São Paulo, tudo tinha um sabor diferente do que tem agora. Saudade de Capão da Canoa. Das caminhadas pela praia deserta em pleno inverno, do voo das gaivotas sob minha cabeça. Saudade do dia em que vi Daniel Machado pela primeira vez, e soube imediatamente que seríamos grandes amigos. Saudade do instante de fascínio causado por Vagner ao avistá-lo a distância. Muita saudade da Luísa, do Robson, da Jenni e de uma época em que éramos inseparáveis!

Sinto saudade de quase tudo e continuarei sentindo, até o fim!!!       




segunda-feira, 2 de julho de 2012

MÃE

Você veio depois de um ano de afastamento, um ano de saudade, de falta. E você me enlouqueceu! Eu te abracei forte, te apertei, belisquei teu pescoço, amaciei teus seios fartos que eu tanto amo, aspirei teu cheiro de todas as formas que pude, como se fosse o último suspiro. Me aninhei em seu colo, beijei tua pele já marcada pelo tempo e te mordi de leve, sem machucar, mas queria na verdade um pedaço teu, um pedaço físico que ficasse aqui comigo pra sempre. E tudo isso, acredito eu, como uma forma inconsciente de tentar voltar pro teu útero, pro lugar quente e confortável onde ficamos protegidos de tudo e de todos. O lugar onde só uma mãe pode guardar o seu filho, dentro de si.

Ainda assim, você me enlouqueceu! Com seus conselhos repetidos, suas cobranças, seus temores, suas reclamações. Você não parava de falar um segundo. Me deixou exausto, emocionalmente esgotado. Me questionou sobre assuntos que eu já expliquei milhões de vezes e falou sobre coisas que eu já escutei milhões de vezes. E se deprimiu e chorou, se sentiu culpada e me fez sentir culpado. Disse que não conseguia ser feliz longe de mim, depois disse que era uma mulher muito feliz. Tentou me persuadir de continuar morando sozinho. Remexeu nos meus livros, nos meus filmes, nas minhas roupas. Infelizmente ainda não conseguiu entender que a sua felicidade não é a minha e por isso me encheu de palavras com boas intenções que soaram tão desanimadoras.

E quando eu achava que não ia suportar e iria explodir, respirava fundo e fingia que não era comigo. Foram três dias, apenas três dias, e você conseguiu colocar em dia todas as cobranças e conselhos e afins de uma vida inteira. E quando começava a sair fumacinha pelos meus ouvidos você se foi, e antes de partir pensei em que como era bom voltar a normalidade, estar sozinho de novo, em silêncio, mas minutos antes do embarque me agarrei a você e você me pediu desculpas, e senti vontade de chorar. Você não tinha que se desculpar por coisa nenhuma. Então eu me desculpei, por ter feito você pensar que devia se desculpar por alguma coisa. E eu não queria te soltar. Queria que você fosse, mas também queria que você ficasse, e você se foi. Seguiu seu caminho, eu segui o meu. 

De volta a normalidade, pude caminhar livre pela cidade. Dei voltas pelo centro, tomei uma cerveja, senti uma tristeza. Voltei pra casa. Ao entrar no apartamento um vazio, uma falta enorme. Esqueci os conselhos, as cobranças, as críticas, as chantagens emocionais. Só consegui lembrar do cheiro, do calor, do colo, das palavras doces, da pele, do toque, do sorriso, do jeito puro que só você tem e da falta imensa que tudo isso me faz.