quinta-feira, 29 de novembro de 2012

UMA PAIXÃO POR NOVELAS: "O AMOR ESTÁ NO AR"






Era o ano de 1997. No dia 31 de março, estreava as 18 horas O Amor Está No Ar, a nova novela das seis. Eu fiquei alucinado pra acompanhar essa história escrita por Alcides Nogueira e durante seus 137 capítulos não me decepcionei. Meu interesse pela novela começou desde as primeiras notícias, que davam conta que o triângulo amoroso principal seria protagonizado por Betty Lago, Rodrigo Santoro e Natália Lage, três atores que amo, principalmente Betty e Natália. À época, Rodrigo estava despontando como promissor galã, seu trabalho anterior tinha sido a novela Explode Coração, onde vivia um romance com uma mulher bem mais velha. Nessa trama então, estreava protagonista.

A história: A bela Sofia Shneider (Betty Lago) é casada com Vítor e tem três filhos com ele, a mimada e arrogante Beatriz, o doce Daniel e a rebelde Luísa (Natália Lage). Vítor é o proprietário da Estrela Dourada, empresa de turismo da Fictícia cidade de Ouro Velho. Após sua morte, Sofia assume os negócios da empresa, provocando a ira de Úrsula, sua sogra e grande vilã da trama, que detesta a nora e não aceita que ela assuma os negócios da família. Viúva, Sofia inicia uma grande disputa pelo poder com a maléfica Úrsula, que usa de todas as artimanhas para se dar bem, inclusive manipular os netos contra a própria mãe. Nesse balaio de gato entra Luísa, que é a neta adorada de Úrsula, e por sua vez, achando-se incompreendida pela mãe, que não entende suas atitudes intempestivas, vive em atrito constante com ela. No fundo, mãe e filha tem personalidades fortes e muito parecidas, por esse motivo não conseguem se entender e sempre batem de frente, causando um desgaste na relação.

Em meio a tudo isso, Luísa ainda tem alucinações, ela acredita ver OVNIs. O que a deixa bastante perturbada. Dividida pela disputa entre sua mãe e sua avó e confusa com suas visões, Luísa encontra o amor nos braços de Léo (Rodrigo Santoro). Ele é o novo aviador que chega à cidade para trabalhar na Estrela Dourada. O problema é que Luísa tem de enfrentar a apaixonada Cuca Chicotada, ex-namorada de Léo que não se conforma com o término do romance. Boa de briga, Cuca, que tem esse apelido por trabalhar como domadora de animais no circo do pai, Guima, tem grandes embates com Luísa, que também não leva desaforo pra casa.

Em dado momento, Luísa, que adora esportes radicais como motociclismo e jet ski, desaparece. A família toda se mobiliza em sua procura, principalmente Léo e Sofia, os mais desesperados com o sumiço da garota. O tempo passa e eles ficam cada vez mais próximos pela dor e o empenho em encontrá-la, mas Luísa não aparece e nem dá notícias. O que faz todos pensarem que ela sumiu por vontade própria. Léo e Sofia por fim passam a se acostumar com a ideia de que Luísa decidiu abandoná-los de vez, então surge um novo sentimento, os dois se apaixonam e começam a viver um romance secreto, para evitar falatórios maldosos. Eis que, quando estão prestes a assumir publicamente a paixão, Luísa reaparece.

Ela foi abduzida por um disco-voador e mantida em cativeiro por extraterrestres. Mas quem irá acreditar numa história dessas? Luísa se vê numa sinuca-de-bico após voltar a Ouro Velho. Ela não tem nenhuma lembrança do que aconteceu. Decepcionada e revoltada ao descobrir o caso entre sua mãe e seu namorado, ela não tem nem como provar que não desapareceu por livre e espontânea vontade, e todos sofrem. Luísa, porque ama Léo e se sente duplamente traída. Léo, porque ainda ama Luísa, mas acha que foi abandonado sem nenhuma explicação. E Sofia, porque ama Léo, mas ama mais a filha e não quer disputar o namorado com ela, que por sua vez não a perdoa.

Decidida a esquecer Leo, Luísa que a essa altura já não mora mais com a mãe, está vivendo na casa da avó e lá conhece o misterioso João, novo administrador dos negócios de Úrsula. Sente-se envolvida por ele, mas antes que aconteça algo mais o rapaz revela seu grande segredo. O fascinante administrador é o ET que abduziu Luísa. 

No final Léo e Luísa reatam, os dois vão morar juntos e fazem uma viagem de lua de mel ao Peru. Em meio as ruínas de Machu Picchu, João reaparece para o casal, provando a Léo que é realmente um ser de outro planeta, não deixando dúvidas de que Luísa nunca foi louca, como muitos acreditavam. Os dois terminam felizes e mais apaixonados do que nunca e Sofia encontra o amor nos braços de Pedro Olimpio, um rico empresário que compra de Úrsula a Estrela Dourada, pondo fim a disputa pelo poder.

A novela teve ainda outros destaques que me deliciaram. As hilárias Chimbica e Laíde foram um show à parte. Laíde era empregada na casa de Sofia e sonhava em ser famosa, tinha um namorado por correspondência que conhecia só por foto e soltava tiradas engraçadíssimas. Já Chimbica era de rolar de rir, num trabalho de composição perfeito, a atriz deu vida a uma balconista de açougue caipira e bem fofoqueira. Carla Fioroni e Vera Mancini estavam impagáveis e brilhantes em seus respectivos papéis.

Outro grande destaque foi Lady Francisco como Candê. Num dos melhores papéis de sua carreira, ela incorporou uma batalhadora dona de casa, forte e apaixonada pelo marido Guima, de Nuno Leal Maia, outro destaque. Capaz de enfrentar de igual pra igual, sem medo, a poderosa Úrsula, que teve um romance com seu marido no passado e ainda demonstrava ser apaixonada. Os embates entre Candê e Úrsula, eram os melhores. Úrsula, em atuação marcante de Nicette Bruno, nunca descia do salto, sua postura era sempre de alguém acima do bem e do mal, mas Guima era seu ponto fraco e sabendo disso, Candê tripudiava. Os enfrentamentos entre as duas, era sempre um deleite. Um banho de interpretação e emoção. Candê sempre humilde, bem povão e Úrsula sempre de nariz em pé.

O amor que Úrsula nutria por Guima também era uma trama envolvente. Mesmo muito apaixonada por ele na juventude, ela preferiu abrir mão desse amor, por ele ser de classe social muito inferior. Casou com um homem rico, ficou mais rica do que já era, mas nunca foi feliz e nunca esqueceu Guima. As cenas em que ela aparece sozinha, lembrando do passado e sofrendo ao som de "A Mulher Em Mim" de Roberta Miranda, eram de arrepiar. Eu ia ao delírio!

Os romances entre Camila (Ana Paula Tabalipa) e Rodrigo (Thierry Figueira); Ivan (Marcelo Faria) e Beatriz (Micaela Góes); Vicente (Tuca Andrada) e Cuca (Georgiana Góes) também eram interessantes.

A abordagem dos costumes judaicos através dos personagens Davi (Caco Ciocler) e Flora (Isabela Garcia), vivendo um romance cativante e Daniel (Patrick Alencar), prestes a comemorar seu Bar Mitzvá, também foi bastante enriquecedor pra trama. Os vilões Alberto e Júlia, vividos por Luís Mello e Nathália do Vale também estiveram impecáveis, assim como Monah Delaci esbanjando charme e sofisticação como a matriarca dos Shneider.                                                                                                                                                         Esta novela foi extremamente criticada em sua exibição. A audiência não foi das melhores. Muitos a acusavam de confusa e fantasiosa demais. Uma novela fraca enfim, tanto que nunca teve uma reprise. Pra mim uma grande pena, porque eu amei tudo nessa novela, cada detalhe. Foi uma novela diferente, ousada com a abordagem do tema "extraterrestre", jovem, solar, com um elenco bonito e extremamente competente. Uma novela pequena sim, mas uma pequena jóia. Sem sombra de dúvidas é uma de minhas novelas preferidas. Afinal de contas, não dá pra confiar no gosto da grande massa."" c

    

domingo, 25 de novembro de 2012

PESSOAS QUE FICARAM PELO CAMINHO

As vezes na vida, é inevitável deixar pra trás pessoas queridas. Quem viveu muito, sabe disso. Quem viajou bastante, conheceu pessoas diversas, viveu a vida intensamente e se entregou a cada momento com paixão, entende que, embora a vontade seja genuína, manter todos os amigos que semeamos pela vida a fora é quase uma utopia. Amizades, como plantas, não basta semear, necessita-se o cultivo, que com a transitoriedade da vida incorporada num espírito inquieto, torna-se tarefa árdua. Nem todos estão dispostos pra essa batalha cotidiana. Muito poucos estão.

Então, o tempo vai passando, vamos avançando em idade, fica mais difícil travar novas amizades. Temos meia dúzia de amigos (se tivermos muita sorte) que fazem parte do nosso dia-a-dia, mas de vez em quando bate uma nostalgia do passado, daquele alguém super especial que fez parte de uma fase da nossa vida, as vezes menos do que isso, apenas de um pequeno momento. Mas ficou marcado na mente e no coração de forma tão indelével, que você não entende o por que de não ter perdurado. E surge questionamentos como "por onde anda?", "por que perdemos contato?", "o que terá sido feito desse alguém?".

Vira e mexe eu penso em tanta gente. Gente que fez parte da minha infância, da minha adolescência e até bem pouco tempo atrás da minha juventude, antes dos trinta. Pessoas que surgiram na minha vida e despareceram com o tempo. Pessoas que ficaram pelo caminho. Essas eu chamo de cometa, como li uma vez num poema antigo. Pessoas cometa, que passam pela vida da gente mas não permanecem, ao contrário das estrelas, que são os amigos que não nos abandonam nunca, mesmo distantes.

Eu sou dedicado, me esforço, faço tudo o que posso pra não perder as estrelas de vista, mas está cada vez mais difícil mantê-las. E já não tenho mais paciência pra correr atrás delas, se não tem interesse mútuo, que se dane. Sou um homem de 31 anos, que já sofreu demais por amigos e amores e agora está mais interessado em amar a si mesmo e deixar que quem tiver interesse que busque meu brilho. Ainda assim, sou um ser das nostalgias e adoro me perder em lembranças boas do que passou e ficou congelado no tempo da delicadeza. 

Lembrar dos cometas me inspirou esse texto. Cometa como Dulce, que conheci a tanto tempo atrás que nem me lembro exatamente o ano, mas eu era menino, morava em Tramandaí, devia ter meus 9 ou 10 anos e ela era muito mais velha, praticamente uma babá pra mim. Mas eu não a enxergava assim. Via Dulce como uma amiga mesmo, amiga muito querida. Ela era de uma cidade no interior do Rio Grande do Sul chamada Estrela. Estava em Tdaí passando um verão, nos conhecemos e rolou um carinho imediato. Passei naquele verão com Dulce os dias mais doces de que tenho lembrança. Estranho uma amizade assim, de um garoto de 10 anos com uma mulher de quase 40? Pode ser, se eu não fosse eu e ela não fosse ela. Sempre me interessou amizades com pessoas mais velhas que eu, bem mais velhas, como foi o caso de Dulce e isso me acompanhou a vida toda, sempre me fazendo um bem danado. Só que Dulce passou, tal e qual um cometa. Depois daquele verão, nunca mais soube dela.

Da mesma forma Carmem, que conheci em Aracaju. Baiana de Feira de Santana, primeiro a conheci superficialmente, a via de longe mas não me aproximava muito. Até que pude conhecê-la de verdade e me surpreendi de uma forma apaixonante. Carmem era um furacão em ebulição de alegria, otimismo, bom humor e simpatia. Ela estar na minha vida, mesmo num curto período de tempo, foi um presente divino. Nessa época eu estava com 15 anos e Carmem era uma menina de 40. Não dava pra acreditar que ela tinha tudo aquilo, eu sentia toda aquela energia e era como se tivéssemos a mesma idade. Quando fui embora e tive que deixá-la, no dia da nossa despedida me deu um cordão de ouro, singelo e delicado. Provando mais uma vez que dentro daquela mulher que poucos levavam a sério, havia um coração gigantesco cravejado de brilhantes. Porém, após algumas tentativas de manter contato, Carmem acabou ficando no passado.

Foi assim também com Ísis, amiga do colégio. A melhor amiga de infância, na fase da terceira e quarta séries. Eu a admirava e tinha o maior orgulho de ser seu amigo. Era educada, inteligente, de boa família. Sempre frequentava a casa dela, a mãe e o padrasto eram uns amores. Tenho ternas lembranças da casa e da família de Ísis, das tardes que passávamos brincando de boneca, ouvindo e cantarolando músicas das trilhas de novelas como "Deus nos Acuda" e "Vamp". Depois de adulto consegui revê-la. Continuava a mesma garota simpática e educada de antes porém crescida, madura. Estudava letras e fazia planos pra morar um tempo nos EUA. A última vez que a vi foi em 2003, depois nunca mais.

E aconteceu do mesmo modo, logicamente em proporções diferentes, com Antônio, com quem tive dois encontros, após conhecê-lo via internet em 2009, mas não consegui esquecê-lo. Alguma coisa de especial ele me deixou nesse curtíssimo período em que estivemos juntos. Com Fernando, que vivi uma intensa amizade por dois anos, com momentos hilários e antológicos, antes de se dissolver no ano de 2007. Com Nathália, colega no curso técnico de nutrição e no estágio, com quem convivi por um ano em 2003/2004 e ri desbragadamente. Nathália era um remédio letal contra o mau-humor e o preconceito. Que saudades dessa guria que eu nunca mais vi! Com Angélica, que me ajudou num dos momentos mais difíceis da minha vida. Com Alexandre, que jamais imaginei poder ficar sem sua amizade, depois de ter entrado em minha vida. Foi o amigo mais incrível que já tive, mas ele mudou e me tirou de sua vida. Com Isadora, também da escola, que escreveu assim em minha agenda: "A amizade é como o cristal, depois de quebrar nunca mais será igual. De alguém que te adora, Isadora!" Quebrou muito rápido, mas durou o suficiente pra se tornar inesquecível. E com Gregório e Tiago. O primeiro me cativou em apenas uma semana, passava férias na cidade em que eu morava. Greg foi um bálsamo numa fase em que eu me achava uma coisa estranha, me fez sentir normal. Sou agradecido a ele até hoje por isso, mas ele com certeza nem imagina o efeito maravilhoso que causou em mim. Éramos crianças, início dos anos 90, pré-adolescentes. Imagino o homem lindo que ele deve ter se tornado, mas acho que nunca saberei, como saberei menos ainda de Tiago Girardi, que conheci e conversei por apenas algumas horas numa noite de verão de 1993 e nada mais. Mas o menino loiro de 10 anos, fazia aniversário no mesmo dia que eu, e era tão bonito e carismático que jamais consegui esquecê-lo. Já o procurei nas redes sociais, mas não o acho de jeito nenhum.

E assim, são as pessoas cometa. Pessoas que nos fazem feliz, mas que vamos deixando pelo caminho. Ou será que são elas que nos deixam, depois de terem cumprido sua missão?

domingo, 18 de novembro de 2012

DA SÉRIE: OS FILMES DA MINHA VIDA - SEGUNDAS INTENÇÕES (10)

Junho de 1999. Estou desacompanhado no cinema do shopping Catuaí, em Londrina. Folheio uma revista erótica, que acabei de comprar, no escurinho, antes de começar a sessão. Gostinho de proibido. As luzes se apagam totalmente. No telão, o filme SEGUNDAS INTENÇÕES. Sarah Michelle Gellar, Ryan Phillippe e Reese Witherspoon no auge da juventude, são os protagonistas de uma trama sensual e sórdida. 

Kathryn (Sarah) e Sebastian (Ryan) são meio-irmãos. O pai dela é casado com a mãe dele. Ricos, fúteis e inescrupulosos, eles não medem esforços pra conseguir o que desejam. Enganar, manipular e jogar com os sentimentos alheios é algo divertido e muito prazeroso para a dissimulada Kathryn. Já para Sebastian, conquistar o maior número de garotas e provar ao mundo seu inabalável poder de sedução é o que o move.

Porém, Kathyn é a única mulher que Sebastian ainda não conseguiu ter. Justamente por conhecer o "irmãozinho" muito bem, ela conseguiu manter-se intacta a seus assédios. Mas, Sebastian não desiste de levá-la pra cama, até que surge a grande chance.

Kathryn é abandonada pelo namorado, que a troca pela manipulável Cecile (Selma Blair). Como não está acostumada a perder nada, ela não aceita ser trocada e tenta usar Sebastian num plano para se vingar da garota, onde ele a usaria, transando com ela, pra provar pro namorado que ela não passa de uma vagabunda. Fazendo seu ex se arrepender de tê-la deixado. Sebastian por sua vez acha o desafio fácil demais e acrescenta uma outra proposta. Além de acabar com a reputação de Cecile, ele seduzirá e tirará a virgindade da doce e ingênua Annette (Reese), a filha do futuro diretor da escola preparatória que irão frequentar. Sebastian fica instigado a conquistar Annette, após ler uma reportagem em que ela afirma que pretende se manter virgem até o casamento.

Sem acreditar que seu meio-irmão conseguirá tal feito, Kathryn aposta. Se ele vencer levando a meiga e inocente Annette pra cama, ela será sua. Do contrário, o carro de Sebastian, um magnífico Jaguar 56, será dela. Desafio feito, desafio aceito. Sebastian e Kathryn só não imaginavam o que sentimentos verdadeiros e nobres como os de Annette, são capazes de fazer com corações pérfidos como os deles. 

Daí em diante um desfile de intrigas, chantagens e dissimulações culmina num marcante e emocionante desfecho ao som da sensacional Bitter Sweet Symphony do The Verve.


Simplesmente inesquecível!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

UMA GUERRA MUITO SEM GRAÇA


Fã de novela desde criança que sou, hoje inauguro aqui um novo espaço pra falar de mais essa paixão. Pra começar, em vez de tecer elogios e homenagear alguma trama que marcou minha vida e se cristalizou em minha memória afetiva, vou falar da atual trama no ar às 19 horas da Rede Globo, o remake da tão cultuada "Guerra dos Sexos" de 1983 de Sílvio de Abreu.

Foi com empolgação que recebi a notícia, a uns dois anos atrás, de que a novela com Paulo Autran e Fernanda Montenegro, famosa por revolucionar o horário e o próprio produto em si, com sua comédia pastelão rasgada, ganharia uma nova versão. Quando foi confirmado pela imprensa o tal remake, estava no ar a segunda versão de "Ti Ti Ti", uma delícia de novela, reescrita com maestria pela competentíssima Maria Adelaide Amaral. Por considerar Sílvio de Abreu tão competente quanto Maria Adelaide, ou talvez até mais, por esta ter sido sua pupila, colaborando com diversas obras suas, imaginei que uma nova versão de "Guerra dos Sexos", tão aclamada pelos saudosistas de plantão, seria um grande sucesso, tanto quanto estava sendo "Ti Ti Ti" na época. Me enganei redondamente!

No ar a pouco mais de um mês, ainda pode ser cedo pra dizer se a novela será sucesso ou não, mas já dá pra saber com certeza se é boa, e ela não é. Gosto de dar esse tempo mínimo de um mês pra julgar se uma trama tem realmente pegada, embora dê pra perceber isso logo no primeiro capítulo, com raras exceções. Foi o caso de "Lado a Lado" e "Salve Jorge", respectivamente as atuais novelas das 18 e das 21 horas. Logo no início já senti que "Lado a Lado" era um trabalho delicado, cuidadoso, com trama consistente, um elenco belíssimo, atuações impecáveis e uma ótima história, sem falar nos figurinos e fotografia, tudo impecável. E "Salve Jorge", embora com ressalvas, por tramas anteriores de Glória Perez nada novidadeiras, também me surpreendeu logo de cara, era a mesma Glória Perez só que melhorada. Mais requintada, cautelosa, consistente. Gostei e continuo gostando. Mas "Guerra dos Sexos" definitivamente não me desce. Foi sucesso, foi inovadora, o elenco foi brilhante, mas foi, passado, pretérito imperfeito, não é mais!

Desnecessário dizer que o enredo é completamente datado e eis aí o grande erro de Sílvio, achar que a tal guerra dos sexos nos dias de hoje renderia uma boa história. Não rende. Isso é tão anos 80 e talvez um pouco anos 90, mas jamais anos 2000, muito menos 2012.

"Guerra dos Sexos" 2012, não empolga de jeito nenhum. Apesar do elenco estelar, não há Glória Pires, Irene Ravache, Mariana Ximenez ou Tony Ramos que dê jeito. Este último aliás, está me dando nos nervos, nunca tive tanta antipatia por um personagem de Tony, como estou tendo desse nojento do Otávio com aquele bigodão branco asqueroso. Nota-se um ranço de anos 80 em cada detalhe. O autor parece querer tanto manter a obra fiel a original que não conseguiu modernizar a história, está lá, tudo igual a obra de 83. E como eu sei disso, mesmo não tendo assistido a versão original? Porque diálogos, interpretação, trilha sonora, cenários e situações me soa extremamente demodê, como a própria palavra.

Mariana Ximenez é linda e talentosa, todo mundo sabe, mas qual a graça de sua Juliana? Que trama mais boba o triângulo amoroso entre ela, Fábio e Manuela! E pra completar a sem "gracisse" da história, me aparece um novo pretende vivido por nada mais nada menos que Jesus Luz. Enquanto isso, o apaixonado Nando de Gianecchini, numa versão mais light do Paschoal de "Belíssima", vai ficando em banho-maria causando a paixão da madura Roberta Leone, que apesar de ser feita pela diva Glória Pires, sempre perfeita, tenho quase certeza que não encanta como deve ter encantado Glória Menezes com sua primeira Roberta.

Já Drica Moraes é sempre um deleite, mas sua Nieta é mais um caso de personagem que ficou datada, assim como sua filha Carolina. A vilã interpretada por Bianca Bin é inacreditavelmente ultrapassada, parece até vilã de desenho animado. Suas falas são cheias de frases feitas, chega a dar vergonha. E as situações que ela provoca, como a cena em que finge brigar com Manuela para que Fábio pense que as duas não tem mais nenhuma ligação? Medonha. Ainda na família de Nieta, temos Nenê e seus galanteios a Dona Semírames, personagens que com certeza não surtem o mesmo efeito que antigamente.

Quanto aos protagonistas-mor, sabemos que Irene Ravache é fabulosa e pode fazer coisas magníficas como Katina (Belíssima), Loreta (Eterna Magia) e Clô (Passione) e que Tony Ramos é um ator que despensa comentários, mas Charlô e Otávio serão pra sempre em suas mãos apenas fantoches, vida de verdade eles só tiveram uma vez quando encarnaram no corpo de Fernanda Montenegro e Paulo Autran. Assim como toda a novela, que hoje me parece apenas um rabisco muito mal feito do que um dia foi grandioso.

     

domingo, 4 de novembro de 2012

O QUE VOCÊ DEMORA É O QUE O TEMPO LEVA...

Voltou ao Brasil após 15 anos na Europa. Partiu para viver em Granada, na Espanha, aos dezoito anos, onde se formou e fixou residência. Deixou pra trás uma pendência. Um sentimento, um sonho, uma possibilidade. Um desejo não consumado. Foi embora com o gosto daquele beijo e a lembrança das carícias trocadas em segredo, que se cristalizaram em sua memória.

Na noite da despedida, ela namorava Lucas e João Pedro namorava Alice. Após algumas cervejas, garrafas de vinho e baseado, não demorou muito a perceber que os pares estavam trocados. Sentiu-se irremediavelmente atraída por aquele que não era seu namorado e foi correspondida. Em meio a madrugada, aproveitaram o sono de seus respectivos pares e aqueceram-se em frente as últimas fagulhas da fogueira que fizeram no início da noite, tomaram mais vinho, envolveram-se em um cobertor e trocaram fluidos intensos. Toques. Afagos. Suspiros. O coração descompassado. Tudo muito novo e quase assustador. Não imaginaram aquele envolvimento, não planejaram, apenas aconteceu e foi tão profundo, que ela já começara a imaginar como contar a Lucas que não era ele que queria. Mas, a outra parte recuou, não tinha estrutura psicológica pra enfrentar aquela situação, sua relação já tinha mais tempo que a dela e preferia manter em segredo o acontecido, não queria magoar ninguém.

Agora, Lídia voltara disposta a reencontrar esse amor do passado. Queria saber o que tinha acontecido com sua vida, se ainda pensava nela ou se conseguiu esquecê-la. Ao chegar no hotel, dormiu algumas poucas horas, ansiosa. Tomou um banho morno ao acordar, secou o cabelo com secador, passou creme pelo corpo, pôs uma maquiagem leve. Uma chuva fina caía insistente. Colocou o endereço na bolsa. Nervosa, preferiu pegar um táxi a dirigir. O peito cheio de esperanças, depois de tanto tempo reencontraria a mais doce e inesquecível recordação de sua adolescência.

Respirou fundo. Apertou a campainha do apartamento 13. A porta se abriu. Ele estava ali, na sua frente, barba, cabelos loiros um pouco mais longos, lindo, homem feito. Nem de longe lembrava o garoto impetuoso de quinze anos atrás, mas reconheceu-o na hora. Era ele, João Pedro. Ficou um pouco confusa.

"João Pedro! É você?"

"Sim Lídia, sou eu. Fiquei tão diferente assim? Vem cá, me dá um abraço."

Lídia voltou ao passado ao sentir o abraço afetuoso de João Pedro. Adentrou o apartamento. Acomodou-se no sofá da sala.

"Fica à vontade Lídia. Nossa, já faz tanto tempo! Como você tá? Quando voltou?"

"É, bastante tempo. Quinze anos! Mas eu tô bem, como você pode ver. Cheguei ontem."

"Ontem?! E já veio rever os velhos amigos? Isso que é saudade hein. Mas nós também sentimos muito a sua falta! Você bebe alguma coisa?"

"Não se preocupe comigo. Eu quis vir logo, porque não tenho muito tempo a perder."

"Entendo. Você se tornou uma mulher muito ocupada. Uma mulher de negócios. Mesmo assim, eu vou preparar um drink pra gente."

"Eu aceito, se você tiver um chá."

"Um chá?"

"Sim, você tem?"

"Chá é o que não falta nessa casa. Que sabor você quer?"

"Pode ser de frutas cítricas."

"Espera um minuto enquanto ponho a água pra ferver."

Enquanto João Pedro estava na cozinha, Lídia reparou no Porta-retrato na estante e seu coração parou por um segundo. Agora tudo fazia sentido. Em seguida, João chegou com o chá.

"Você se casou João Pedro?"

"Sim. Você viu o retrato? Sabe quem é ela?"

"Alice"

"Claro, a Alice. Vocês eram inseparáveis lembra?"

"Eu não podia imaginar. Achei que fosse só um namoro de adolescência."

"Pois é. Acontece que entre idas e vindas, a gente acabou descobrindo que fomos feitos um pro outro. Até tentamos te mandar um convite pro casamento, mas seus pais disseram que você tava atolada de compromissos e infelizmente não ia poder comparecer."

"Meus pais. Típico deles, responder por mim."

"Você não ficou chateada né?"

"Claro que não. Quanto tempo vocês estão casados?"

"Completamos oito recentemente. Tivemos aquela crise típica dos sete anos, mas sobrevivemos."

"E onde ela está agora?"

"Foi buscar Isabela no colégio, já já ela tá por aí, vai adorar te ver!"

"Quem é Isabela?"

"Nossa filha. Tem 6 anos. Uma graça!"

Lídia quase engasgou com a resposta de João Pedro.

"Mas e você? Fala de você, dos seus negócios na Espanha. Tá casada, solteira, divorciada? E o Lucas? Vocês namoravam na mesma época que eu e Alice começamos, lembra? Pretende vê-lo?"

"O Lucas é coisa do passado. Brincadeira de criança. E a gente não namorava, só ficava de vez em quando. Eu achava que acontecia o mesmo entre você e Alice, nunca imaginei que fosse tão longe."

"O Lucas gostava muito de você. Mas você sempre foi meio distante né Lídia."

Nesse momento Alice chega com Isabela. A pequena corre para os braços do pai. Alice surpreende-se com a presença de Lídia tantos anos depois. Isabela quer saber quem é a visita.

"Essa é Lídia, uma velha amiga do papai e da mamãe."

"Oi Lídia."

"Oi Isabela."

"Como vai Lídia?"

Alice pergunta ainda surpresa

"Muito bem Alice e você?"

"Pode apostar que completamente surpresa"

João pede licença a Lídia e avisa que vai preparar o banho de Isabela, enquanto as duas ficam a vontade pra pôr o papo em dia.

Sozinhas na sala, finalmente Lídia consegue cumprir seu propósito ali. 

"Vejo que o João te serviu um chá, aceita uns biscoitos pra acompanhar?"

"Não Alice, tá tudo bem assim."

"Mas me diz, que novidade é essa depois de tanto tempo?"

"Voltei por sua causa Alice."

"Por minha causa? Como assim?"

"Você esqueceu?"

"Esqueci de que? Do que você tá falando?"

"De nós duas, aquela noite no acampamento, na beira da fogueira, envoltas num cobertor velho, dividindo a mesma garrafa de vinho no gargalo."

"Você ficou louca? Me aparece aqui na minha casa, 15 anos depois, pra ressuscitar uma história que aconteceu em outra vida. Olha a sua volta Lídia, essa é minha casa, eu sou uma mulher casada, tenho uma filha, uma família. O que deu em você, pirou?"

"Eu não sabia de nada disso, nem entendendo. Por que você fez isso? Porque se casou com o João Pedro?"

"Por que? Você se abala de lá da Espanha até aqui pra saber por que eu, uma mulher de 32 anos, me casei com o homem que era meu namorado desde adolescente e formei uma família, é isso?"

"Eu amo você Alice, eu sempre te amei, vivi todos esses anos te amando. Aquela noite nunca mais saiu da minha cabeça. Quando eu decidi te procurar, imaginei que você pudesse estar comprometida, sabia que esse era um risco que eu corria, mas não com um homem."

"Mas você achou que eu fosse o que? uma lésbica como você? Sinto muito, mas o que aconteceu entre nós naquela noite, foi só um deslize, no máximo uma experiência."

"Tem certeza disso Alice? Eu vim disposta a levar você comigo, pra que a gente pudesse viver o que foi interrompido no passado. Eu rompi um relacionamento de dez anos pra vir em busca de você, mas eu não sei amar sozinha. Se você me disser não definitivamente, eu vou pra nunca mais voltar, e dessa vez eu prometo ser apenas uma vaga lembrança de outra vida."

"Meu Deus, eu tô perplexa! Já tinha ouvido falar de como vocês lésbicas, são intensas, impulsivas e até um pouco loucas, mas eu não pensei que fosse tanto."

"E eu pensei, que quando você se recusou no passado a terminar tudo com o João Pedro e ficar comigo, era porque tava confusa, assustada, mas que ia passar e você ia assumir aquilo que é de verdade. Porque eu sei o que você é de verdade Alice, por mais que negue. E se quiser continuar sendo uma covarde, se escondendo nessa fachada que você criou de família feliz, é um direito que lhe cabe. Se mudar de ideia e resolver de uma vez por todas tornar-te quem tu és, não esquece, que é melhor tarde do que nunca. Nesse envelope tem os endereços e os contatos do hotel que eu estou aqui e da minha residência em Granada. Fico no Brasil por no máximo mais 10 dias. Adeus ou até logo!"

Deixou o envelope na mesinha de centro e se foi. Alice segurou-o e apertou contra o peito. Lídia tinha razão, se ela seguisse o seu coração, não pensaria duas vezes, se atiraria em seus braços e consumaria o desejo encubado ali mesmo naquela sala, depois arrumaria as malas e partiria rumo a Espanha para viver o único e verdadeiro amor que sentiu na vida. Mas havia João Pedro, que era um bom marido. Havia Isabela, que era sua razão de existir. Havia os parentes, que não suportariam o vexame. E havia sua imensa covardia, que era maior que qualquer outra coisa.