quarta-feira, 14 de novembro de 2012

UMA GUERRA MUITO SEM GRAÇA


Fã de novela desde criança que sou, hoje inauguro aqui um novo espaço pra falar de mais essa paixão. Pra começar, em vez de tecer elogios e homenagear alguma trama que marcou minha vida e se cristalizou em minha memória afetiva, vou falar da atual trama no ar às 19 horas da Rede Globo, o remake da tão cultuada "Guerra dos Sexos" de 1983 de Sílvio de Abreu.

Foi com empolgação que recebi a notícia, a uns dois anos atrás, de que a novela com Paulo Autran e Fernanda Montenegro, famosa por revolucionar o horário e o próprio produto em si, com sua comédia pastelão rasgada, ganharia uma nova versão. Quando foi confirmado pela imprensa o tal remake, estava no ar a segunda versão de "Ti Ti Ti", uma delícia de novela, reescrita com maestria pela competentíssima Maria Adelaide Amaral. Por considerar Sílvio de Abreu tão competente quanto Maria Adelaide, ou talvez até mais, por esta ter sido sua pupila, colaborando com diversas obras suas, imaginei que uma nova versão de "Guerra dos Sexos", tão aclamada pelos saudosistas de plantão, seria um grande sucesso, tanto quanto estava sendo "Ti Ti Ti" na época. Me enganei redondamente!

No ar a pouco mais de um mês, ainda pode ser cedo pra dizer se a novela será sucesso ou não, mas já dá pra saber com certeza se é boa, e ela não é. Gosto de dar esse tempo mínimo de um mês pra julgar se uma trama tem realmente pegada, embora dê pra perceber isso logo no primeiro capítulo, com raras exceções. Foi o caso de "Lado a Lado" e "Salve Jorge", respectivamente as atuais novelas das 18 e das 21 horas. Logo no início já senti que "Lado a Lado" era um trabalho delicado, cuidadoso, com trama consistente, um elenco belíssimo, atuações impecáveis e uma ótima história, sem falar nos figurinos e fotografia, tudo impecável. E "Salve Jorge", embora com ressalvas, por tramas anteriores de Glória Perez nada novidadeiras, também me surpreendeu logo de cara, era a mesma Glória Perez só que melhorada. Mais requintada, cautelosa, consistente. Gostei e continuo gostando. Mas "Guerra dos Sexos" definitivamente não me desce. Foi sucesso, foi inovadora, o elenco foi brilhante, mas foi, passado, pretérito imperfeito, não é mais!

Desnecessário dizer que o enredo é completamente datado e eis aí o grande erro de Sílvio, achar que a tal guerra dos sexos nos dias de hoje renderia uma boa história. Não rende. Isso é tão anos 80 e talvez um pouco anos 90, mas jamais anos 2000, muito menos 2012.

"Guerra dos Sexos" 2012, não empolga de jeito nenhum. Apesar do elenco estelar, não há Glória Pires, Irene Ravache, Mariana Ximenez ou Tony Ramos que dê jeito. Este último aliás, está me dando nos nervos, nunca tive tanta antipatia por um personagem de Tony, como estou tendo desse nojento do Otávio com aquele bigodão branco asqueroso. Nota-se um ranço de anos 80 em cada detalhe. O autor parece querer tanto manter a obra fiel a original que não conseguiu modernizar a história, está lá, tudo igual a obra de 83. E como eu sei disso, mesmo não tendo assistido a versão original? Porque diálogos, interpretação, trilha sonora, cenários e situações me soa extremamente demodê, como a própria palavra.

Mariana Ximenez é linda e talentosa, todo mundo sabe, mas qual a graça de sua Juliana? Que trama mais boba o triângulo amoroso entre ela, Fábio e Manuela! E pra completar a sem "gracisse" da história, me aparece um novo pretende vivido por nada mais nada menos que Jesus Luz. Enquanto isso, o apaixonado Nando de Gianecchini, numa versão mais light do Paschoal de "Belíssima", vai ficando em banho-maria causando a paixão da madura Roberta Leone, que apesar de ser feita pela diva Glória Pires, sempre perfeita, tenho quase certeza que não encanta como deve ter encantado Glória Menezes com sua primeira Roberta.

Já Drica Moraes é sempre um deleite, mas sua Nieta é mais um caso de personagem que ficou datada, assim como sua filha Carolina. A vilã interpretada por Bianca Bin é inacreditavelmente ultrapassada, parece até vilã de desenho animado. Suas falas são cheias de frases feitas, chega a dar vergonha. E as situações que ela provoca, como a cena em que finge brigar com Manuela para que Fábio pense que as duas não tem mais nenhuma ligação? Medonha. Ainda na família de Nieta, temos Nenê e seus galanteios a Dona Semírames, personagens que com certeza não surtem o mesmo efeito que antigamente.

Quanto aos protagonistas-mor, sabemos que Irene Ravache é fabulosa e pode fazer coisas magníficas como Katina (Belíssima), Loreta (Eterna Magia) e Clô (Passione) e que Tony Ramos é um ator que despensa comentários, mas Charlô e Otávio serão pra sempre em suas mãos apenas fantoches, vida de verdade eles só tiveram uma vez quando encarnaram no corpo de Fernanda Montenegro e Paulo Autran. Assim como toda a novela, que hoje me parece apenas um rabisco muito mal feito do que um dia foi grandioso.

     

2 comentários:

Anônimo disse...

Esdras!
Concordo com absolutamente tudo o que você escreveu!!
Essa novela toda é um fantoche da primeira...nenhum personagem conseguiu se destacar,brilhar ou mesmo fazer uma pequena diferença.Não colou! Não emplacou!

Senti exatamente o mesmo frisson,quando soube que haveria um rameke de "Guerra dos sexos"...mas; que decepção!!

Você está se revelando mais e mais um bom conhecedor dos assuntos que borda.

Adorei!!!!

Marcelo A. disse...

Também odiei Guerra dos Sexos. Aliás, há muito tempo que o Sílvio deixou de lembrar o Sílvio das grandes comédias das sete. Pra falar a verdade, atualmente, são os novos autores que me tem surpreendido. Prova de que está mais que na hora de renovação na nossa teledramaturgia. Que tal se candidatar, Esdras?

;)