domingo, 12 de agosto de 2012

UM CERTO RAMON

Como era belo aquele Ramon! Lembro-me de sua pele branca como leite, as faces rosadas, um corte de cabelo "tigela" mas despenteado sempre. Os olhos de brisa, ou "olhos de ressaca" como diria Machado de Assis. Dentes alvos, sem falhas, perfeitos que armavam aquele tipo de sorriso que te derrete lentamente como manteiga fora da geladeira.

Tinha um ar desligado, como se estivesse sempre fora de órbita, precisando ser chamado a realidade, possivelmente efeito da grande quantidade de maconha que fumava. Não se concentrava nos estudos. Era da turma do fundão. Andava com uns garotos escrotos, mas tinha um bom coração, aparentava ser doce, porém era um tanto quanto transgressor. Um doce transgressor. 

Dentre todos os garotos, Ramon era o único que não praticava o bully, isso me encantava ainda mais em sua intrigante personalidade. Tão diferente de Vinícius, seu melhor amigo, praticamente um ogro. 

Tantas coisas passavam pela minha cabeça quando pensava em Ramon. Não éramos amigos. Ele não falava comigo, mas alguma coisa em seu olhar dizia que eu podia me aproximar, dizer "olá", me desarmar. E por tantas vezes eu quis falar, cumprimentar, elogiar,mas não saí do lugar, ficava de longe só a observar. 

Equivalente a seu charme e beleza feminino, havia Rafaela. Linda, ela provocava inveja nas garotas e arrebatadoras paixões nos garotos. Em mim uma admiração suprema. Em meus devaneios, Ramon e Rafaela eram a síntese da perfeição e formavam o casal mais sensacional de todo o colégio. Queria vê-los juntos, apaixonados, vivendo uma grande e poderosa história de amor. Mas ambos eram muito diferentes. Rafa era princesinha, vaidosa, filhinha de papai. Ramon era irresponsável, lunático, livre. E não, eles não se apaixonaram perdidamente como eu gostaria.

E naquele ano que conheci Ramon, 1997, foi lançado no Brasil ROMEU + JULIETA, a versão de Baz Luhrmann para o clássico de Shakespeare. Uma versão moderna que serviu de inspiração para uma peça da escola dirigida por mim, onde ao escolher Ramon e Rafaela para os papéis principais, teria meu tão sonhando romance avassalador entre os dois. 

Todos os envolvidos estavam empolgados com seus respectivos papéis, mas ninguém estava mais nervoso e ansioso do que eu, que além de dirigir também atuaria como o personagem Mercúrio, o melhor amigo de Romeu, que morre tentando defendê-lo e após ser fatalmente ferido, Romeu o agarra em seus braços, soltando um violento grito de revolta e dor, e o carrega no colo numa longa sequencia. Minha expectativa para esse ensaio era tremenda. Imaginar-me nos braços de Ramon era um sonho encantado, que não se realizou.

Após muitas preparações, discussões, palpites e ilusões, o ator principal saiu de cena. Ramon deixou o colégio. Houve rumores de que se afastaria por longo tempo para tratamento numa clínica de usuários de drogas.

Assim, meio James Dean, Ramon sumiu por aí, deixando um rastro de mistério, sedução e transgressão. Deixando em mim uma sensação de alucinação e frustração. Afinal não teria sido tudo uma grande ilusão? Criação da cabeça de um jovem escritor cheio de imaginação? Terá existido mesmo um certo Ramon?

  

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