terça-feira, 22 de maio de 2012

DA SÉRIE: OS FILMES DA MINHA VIDA - FILADELFIA (7)


Em 1993 eu era um pré-adolescente prestes a completar 12 anos. Adorava ir ao cinema com meu pai. Até essa idade tinha assistido todos os filmes d'Os Trapalhões, da Xuxa, os clássicos Disney como O Rei Leão, Alladin, A Bela e a Fera. Até que chegou a hora de meu primeiro filme adulto, e eu comecei com nada mais nada menos que um grande sucesso do cinema, o terno, profundo e dramático FILADELFIA de Jonathan Demme. Eu não podia imaginar,mas depois dessa sessão de cinema eu jamais seria o mesmo. FILADELFIA significou tanto pra mim, em muitos sentidos. Foi o primeiro filme com abordagem gay da minha vida. Foi a primeira vez que vi interpretações de verdade. Foi a primeira vez que me emocionei com seres humanos e não com bichos ou desenhos animados (tudo bem, eu também chorei em Lua de Cristal e Super Xuxa contra o Baixo Astral, mas esses não contam). Foi em FILADELFIA que eu entendi o significado de muita coisa, mas o que eu não consigo esquecer é da emoção do meu pai ao assisti-lo. A emoção dele, pra mim teve muito significado. Significava que o meu pai não era tão preconceituoso quanto eu podia imaginar e que um dia, talvez, ele me aceitasse sem muitas dificuldades. Meu pai era um homem sensível, foi o que me pareceu na época, e foi tão bonito perceber isso.   

FILADELFIA foi um marco não só pela história emocionante e arrebatadora de amor, preconceito e justiça, mas por inúmeros detalhes que tornaram ela grandiosa e merecedora de todos os prêmios que recebeu na época. A trilha sonora foi um show à parte, com Bruce Spreengsteen encabeçando o elenco, que contou ainda com nomes como os de Neil Young dando o golpe de misericórdia com sua melanólica e massacrante "Philadelphia", e a depressiva, porém maravilhosa ópera "La mamma morta". As atuações de Tom Hanks como o advogado Andrew, vítima de discriminação pela aids, que encara com a mais absoluta classe e dignidade sua desesperadora e humilhante situação até o fim e Denzel Washington, que com seu quase homofóbico Joe Miller, representou grande parcela da população que ignora a realidade dos gays e embora não faça nada pra prejudicá-los também não os querem muito perto, mostraram ser astros de primeira grandeza. 

Não posso me esquecer também do meu lindo amante latino, o eterno amor da minha vida, Antonio Banderas, bonito a não mais poder, ainda meio cru, dando os primeiros passos em Hollywood, interpretando Miguel, o namorado de Andrew (devo confessar que mesmo com aids, eu tinha uma inveja dele!!! Com o Banderas do lado eu morreria feliz). 

O filme ainda teve o mérito de falar de aids numa época em que a doença era sinônimo de morte certa e ninguém tinha muita informação correta sobre ela. Além de um belo filme, foi extremamente esclarecedor, um retrato tocante de tolerância.

Cenas que ficaram congeladas na minha memória: Andrew e Miguel dançando juntinhos num baile, fardados com um uniforme branco - cena linda que me fez desejar ardentemente viver um momento igual, sonho com ele até hoje. Andrew escutando "La mamma morta", e no calor da emoção ele canta e chora copiosamente ao som da ópera de Maria Callas, um desabafo em meio ao turbilhão de sentimentos pelo qual passa. Uma das cenas do tribunal em que Andrew se exalta e cai convulsionado no chão já bastante debilitado, arrepiante. E por fim a derradeira sequência, a do velório, ao som de Philadelphia com Neil Young, impossível segurar as lágrimas, uma das cenas mais tristes e lindas do cinema pra mim. No final o mar, e Andrew criança, dando tchauzinho pra câmera. Fim! 

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