sábado, 1 de setembro de 2012

O PRÍNCIPE DAS MARÉS?


Era feriado, um feriado qualquer. A noite estava agradável, convidativa. Saiu em direção a praia, queria caminhar a beira-mar. Precisava pensar na vida. Andava aflito, reflexivo, cheio de preocupações. Estava bem vestido, perfumado. Sempre que fazia seus passeios noturnos, tinha o desejo ilusório de encontrar alguém pelo caminho, alguém especial. Para apenas uma noite ou algo permanente, a ilusão sempre presente.

Percorreu o calçadão. Contemplou os jardins. Viu pessoas bebendo, rindo, abraçando e se beijando nos quiosques. Crianças andando de bicicleta. Gente passeando com seus cães. Adolescentes se agarrando. Sentou-se num banco em frente ao reduto onde rapazes se exercitavam. Observava os belos corpos movimentando-se. Uns saíam, outros chegavam, mas um permanecia.

Naquela noite solitária, estava especialmente melancólico. Os rapazes lindos e musculosos, chamavam sua atenção, mas não a prendia. A cabeça estava longe, um tanto quanto atormentada. A lua estava cheia, branca e brilhante, olhava pra ela e com o coração apertado, pedia que lhe trouxesse algo bom. Admirava o reflexo de sua luz no mar e se sentia bem.

Quando tornou a olhar os rapazes, percebeu que todos já tinham partido, exceto um. Aquele que estava lá, desde que sentou-se no banco, e não saiu, não parou em nenhum momento de exercitar-se. Não conseguia acreditar, mas tinha a impressão de que o rapaz o olhava e sorria pra ele. Era muito bonito e tudo parecia surreal, achou que estava delirando. Via-se extremamente comum, quase sem graça, incapaz de atrair alguém tão atraente.

Teve certeza de que era o alvo do belo rapaz quando este se aproximou e puxou assunto. Seu nome era Carlos. Ficou nervoso com a aproximação, sem jeito. O corpo, o charme e o sex appeal de Carlos o perturbava. Achava que pessoas como ele gostavam só de pessoas que fossem seu próprio reflexo. 

Inseguro, falou pouco, mediu as palavras, respondia só o que Carlos lhe perguntava. Então veio o convite para que corressem na areia, sem rumo. Diante do rapaz de bermuda e sem camisa, alegou que não estava vestido apropriadamente pra correr com calça jeans e camisa. Mudou a proposta então, para uma simples caminhada. Ele topou na hora, um deus grego como aquele convidando-o pra caminharem juntos à beira-mar, era mais do que ele havia pedido pra lua. 

Então caminharam e conversaram, falaram sobre exercícios físicos, que era o assunto preferido de Carlos e falaram sobre o desejo de se beijarem e passarem aquela noite juntos, mas de repente Carlos cansou de caminhar e resolveu correr. Insistiu mais uma vez com ele que corresse junto, a seu lado, que ia lhe fazer bem, mas ele não quis, estava com preguiça de correr. Prometendo que correria alguns metros e voltaria para reencontrá-lo, Carlos se foi.

Sentia-se presenteado pelos céus ao ver aquele homem atlético, forte e cheio de músculos correndo pela praia, deixando a promessa de que logo voltaria pra lhe proporcionar uma noite cheia de prazer e delícias. Mas, ao ver Carlos desaparecer na escuridão, sem nenhum sinal de volta, seu semblante começou a desvanecer. Andou mais depressa pra ver se o enxergava ao longe, mas não viu mais nada, parecia ter desaparecido como fumaça, como se a escuridão o tivesse tragado.

Ficou parado, incrédulo, olhando pra todos os lados. Algum sinal daquele homem fabuloso tinha que aparecer. Inconformado pensou, como pôde ser tão burro em acreditar que um homem daqueles ia querer algo com ele ou tão tolo de não tê-lo seguido, corrido ao seu lado como ele queria? De qualquer modo estava acabado, aquele breve sonho havia chegado ao fim. O resto eram só conjecturas. Seja o que tivesse sido aquilo, Carlos seria pra sempre o seu "príncipe das marés".   

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