Além das tramas principais que são sempre envolventes, os demais núcleos sempre possuem narrativas charmosas e divertidas, com personagens bem delineados que seguram bem a estória tornando-a deliciosa como um todo. Eu, definitivamente, adoro João Emanuel e suas novelas, desde DA COR DO PECADO em 2004 até a atual AVENIDA BRASIL de 2012.
Como nem tudo é perfeito, algo me incomoda profundamente nas novelas de João Emanuel Carneiro. Era algo que até então eu não tinha parado pra pensar, mas fazendo um retrospecto de suas 4 tramas exibidas pela Rede Globo: DA COR DO PECADO, COBRAS E LAGARTOS, A FAVORITA e AVENIDA BRASIL, percebi que todas tem um personagem quase-gay, ou seja, aquele sujeito que tem tudo pra ser, demonstra tendências, ilude o telespectador, mas no final das contas é heterossexual ou quase isso.
Em DA COR DO PECADO (2004) temos Abelardo, rapaz sensível e delicado, criado numa família de lutadores, com quatro irmãos machões, que tem aversão pelas artes marciais e sonha em ser maquiador. Em interpretação luminosa de Caio Blat, pra mim o melhor personagem de sua carreira e o meu preferido quase-gay de todos, Abelardo foge como o diabo da cruz de Tina (Karina Bacchi), maria-tatame que já ficou com todos os seus irmãos. Pra completar, em determinado momento da trama Abelardo encontra um companheiro, Íris, um rapaz que tem as mesmas afinidades e juntos os dois competem em um concurso que vai eleger um maquiador para Madonna. Embora a sexualidade de Abelardo fosse questionada a todo momento pelos familiares por causa de suas tendências artísticas, nunca foi mencionado pelo próprio uma preferência pelo mesmo sexo, deixando sempre no ar uma dúvida, mas tudo nele era tão gay que os telespectadores tinham certeza. Só que no fim das contas Abelardo revela-se hetero, ficando com Tina e assumindo a paternidade de seus filhos juntamente com os irmãos Dionísio (Pedro Necshlling) e Thor (Cauã Reymond).

Em 2008, JEC nos brinda com sua primeira novela no horário nobre, a inovadora e sensacional A FAVORITA. Tudo perfeito, até o personagem Orlandinho de Iran Malfitano, esse sim gay de verdade, loucamente apaixonado por Halley (Cauã Reymond), casar-se com Maria do Céu (Deborah Secco) e após relutar de todas as formas, render-se a uma paixão heterosexual pela então esposa de fachada. Vergonha das vergonhas transformar um personagem gay em hetero sabe-se lá por que cargas d'água. Como se na vida real fosse assim: hoje sou gay, amanhã sou hetero. Sentimento de revolta por ter amado tanto uma novela que me fez de idiota com um personagem quase-gay.
Por fim chegamos ao grande sucesso do momento, a cinematográfica AVENIDA BRASIL (2012), onde temos Roni (Daniel Rocha), Roniquito pros mais íntimos. Jogador
de futebol, Roni não assume sua sexualidade, porém percebe-se envolvido por
Leandro (Thiago Martins) e tem ojeriza a Suellen (Ísis Vaverde), maria-chuteira que já passou pela cama de todos os boleiros do bairro. O problema é que Leandro é louco por Suellen e por ironia do destino Roni acaba se casando com ela e indo pra cama também. Neste momento da novela, os dois já estão separados e Suellen investe em Leandro, que começa a ganhar dinheiro com o futebol. Roni curte uma dor de cotovelo, mas até agora nada de se assumir. Resta esperar mais algumas semanas pra saber o desfecho desse triângulo e descobrir se teremos afinal mais um quase-gay em mais uma trama de João Emanuel Carneiro. Porque tendo em vista que o autor me parece ele mesmo ser gay na vida real, essa fixação por retroceder a homossexualidade de seus personagens demonstra uma não-aceitação inconsciente de sua própria sexualidade.
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos...
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