quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

PERDER O TESÃO

Quando eu cito a palavra tesão qual é a primeira coisa que vem a sua cabeça? Aposto que pensou em sexo. Pois é, pra fazer sexo é preciso que se tenha pelo menos um pouquinho de tesão, pela pessoa, pelo cheiro, até pela simples idéia do sexo em si.
Antigamente algumas pobres mulheres, talvez a maioria delas, entregavam-se a obrigação do sexo marital sem nem ao menos ter a vaga idéia do que seria esse desejo ardente, que toma conta da mente, da pele e de cada pequeno músculo e órgão do corpo quando envolvido por fluídos sexuais intensos. Então cumpria-se a obrigação de esposa e aí sim em outros setores da vida sentiam tesão de verdade, num passeio de charrete, ao preparar um prato especial, uma caminhada a beira-mar, os preparativos de um baile, nesses momentos sentiam-se realmente vivas, o prazer tomava conta e o tesão as impulsionava a continuar sendo belas damas da sociedade e boas esposas dedicadas.
Todo esse papo na verdade não é pra falar das delícias do sexo e de como devia ser triste para nossas mulheres de antigamente praticar sexo sem tesão. Embora sexo seja realmente muito bom, quando feito do jeito que se quer e se gosta e seja uma pena algumas damas do século passado nunca terem descoberto o tesão pelo mesmo.
O fato é que triste de verdade é quando se perde o tesão por aquilo que sempre nos provocou grande prazer. A vida está repleta, de atividades e hobbies que nos alivia o stresse, nos distrai, nos deixa de bom humor, felizes e satisfeitos. Essas atividades varia muito de pessoa pra pessoa, é uma questão de gosto, influências e uma série de outros fatores.
Uns são aficcionados por esportes radicais: canoagem, bungee jump, rappel, vôôs de pára-quedas, etc. Eu tô fora, o esporte mais radical que já pratiquei foi andar de roda-gigante, mas pra quem gosta deve dar um tesão danado.
Outros tem paixão por viagens, investem boa parte do que ganham em passeios pela Europa, EUA, recantos turísticos do Brasil, América Latina, cruzeiros. Fazem a festa ao aprontar as malas para a próxima viagem. Cada viagem programada, cada novo carimbo no passaporte é um tesão quase q indescritível.
Ainda outros deliciam-se com a boa mesa, muita comida e muita fartura, geladeira abarrotado, churrascos, comida italiana, japonesa, alemã, tailandesa, chinesa, francesa, pizzarias, restaurantes sofisticados, barraquinhas de cachorro quente. Em casa não pode faltar doces e bolos. Podem chamá-los de glutões, não tem importância, usufruir dos prazeres da mesa é o que os enche de satisfação, o tesão em comprar, preparar, saborear é o que importa, nada mais os deixa tão felizes.
Tem aqueles que tem um tremendo tesão em gastar indiscriminadamente, são os compulsivos, aí já entramos no terreno da psicanálise (em outro texto debaterei sobre isso), mas o fato é que comprar, comprar e comprar pra esses indivíduos é algo alentador e extremamente excitante.
O que sempre me deu imenso prazer, foi ler os meus livros, ouvir meus cds, assistir a uma boa peça de teatro, um bom filme, escrever. Escrever sempre me encheu de tesão. Enfim, a arte em todas as suas mais diversas expressões sempre me provocou excitação, alegria, satisfação. A arte sempre me fez sentir inteiro e completo de certa forma. A pulguinha que vem me incomodando atrás da orelha ultimamente é que estive refletindo e me dei conta de que não tenho mais sentido tesão em algumas coisas que me empolgavam tremendamente a algum tempo atrás. O simples ato de ir a uma loja escolher um cd que queria muito outrora, hoje não tem me provocado mais o frisson de antes. Já tem um tempo também que não me empolgo mais em ir ao cinema, isso me incomoda profundamente e me fez lembrar de um episódio do passado que ocorreu a uns dez anos atrás, quando eu ainda estava no ensino médio, então com 17 anos no auge da minha fome em assistir todos os filmes, todas as peças, ouvir todas as músicas, me alimentar o máximo possível de tudo que tivesse a ver com arte.
Tinha uma professora de biologia com quem me dava muito e gostávamos muito de falar sobre cinema, ela era viciada, ia toda a semana de duas à três vezes, assistia tudo, e eu como vivia de mesada, bem mirrada por sinal, ia umas duas vezes por mês. Então ficávamos falando, comentando sobre os filmes, os enredos, etc. Um belo dia percebendo que ela não havia feito mais nenhum comentário sobre filmes, perguntei-lhe sobre o mesmo, qual foi minha surpresa quando me respondeu q já fazia algum tempo que não ia mais ao cinema. Entre decepcionado e curioso perguntei o por que. A resposta dela: "...sei lá, perdi o tesão." Aquela resposta me chocou, naquele momento pra mim era impossível entender e admitir q alguém pudesse perder o tesão em apreciar a sétima arte, e arrematei: "... que pena, eu não consigo me imaginar perdendo a vontade de ir ao cinema." Mais ou menos isso, afinal já fazem dez anos. E hoje tô aqui mordendo minha própria língua, perdendo aos poucos o tesão por tudo aquilo que sempre me fez sonhar.
O por que disso tudo, não sei com certeza, talvez as ansiedades da vida. As dívidas que se acumulam, a realização profissional que ñ chega nunca, aquele amor que não veio, aquela tristeza presa no fundo do peito. Pode ser que tudo isso contribua pra perda temporária do desejo por tudo aquilo que nos toca, nos emociona e nos faz sonhar. Mas se demorar demais pra recuperar o desejo, mesmo ainda sangrando, estanca esse corte, sacode a poeira e dá a volta a por cima, porque sem tesão, perde-se a alma, perde-se o coração.

Um comentário:

eroticromanticvaniamara disse...

Esdras que delícia de assunto hem??
como sempre sou suspeita pra falar qualquer coisa a respeito de seus textos, por que sabe que sou sua fã.
Mas especialmente este muuito me interessa rs. Realmente a vida sem tezão é como uma limonada sem açúcar.
O tezão é a energia que movimenta tudo navida dos mortais. Eu só penso que se você quisesse , poderia ter explorado ainda mais.. Mas adorei!