quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

PEQUENO MONSTRO - PARTE 3




COMEMORANDO 2 ANOS DO BORBOLETAS NA JANELA. OBRIGADO À TODOS QUE ENRIQUECEM ESSE BLOG COM SEUS COMENTÁRIOS E VISITAS!!!!!!!!!
Terceira parte da crônica de Caio Fernando Abreu:
De manhã, fiquei na cama até quase meio-dia. Escutei uns barulhos de gente acordando, mas não me mexi nem olhei, virado pra parede. Aí vieram outros barulhos, descarga de privada, torneira aberta, colher batendo em xícara na cozinha, a voz da mãe dizendo que eu era assim mesmo, dormia até o cu fazer bico, e uma voz mais grossa, que não era a do pai, falando outra coisa que não consegui ouvir. Depois uns barulhos de porta batendo, e silêncio. Eu sabia que eles tinham ido todos pra praia, e pensei em me levantar pra mexer um pouco nas tralhas do primo Alex, ninguém ia ver. Mas comecei a cair naquela coisa que eu chamava de entre-sono, porque não era bem um sonho. Meu pau ficava tão duro que chegava a doer, toda manhã, então eu apertava ele contra o lençol, parecia que tinha uma coisa dentro que ia explodir, mas não explodia, tudo começava a ficar quente dentro e fora de mim, enquanto eu pensava numas coisas meio nojentas - um peito da negra Dina que eu vi uma vez na beira do tanque, uns gemidos de gente e rangidos de cama no quarto do pai e da mãe. Eu não sabia quase nada dessas coisas, mas era justo nelas que ficava pensando sempre no entre-sono, o pau apertado sobre o colchão, até tudo ficar mais sono do que entre. Daí eu caía fundo no sono sem me lembrar de mais nada. Só saí da cama quando a mãe bateu na porta e falou que estava quase na mesa. Olhei pra cama do primo Alex, toda desarrumada, e pensei que o idiota devia estar na sala, sentado como se a casa fosse dele, tomando cerveja com o pai. Enfiei a bermuda, lavei a cara no banheiro e remanchei o mais que pude, pra não ver a cara de niniguém nem ninguém ver a minha. Mas quando saí e fui entrando pela casa, só tinha a mãe remexendo na cozinha e o pai sentado no degrau da varanda, lendo o Correio do Povo. Olhei em volta, não tinha nenhum sinal do primo Alex além da campeira xadrez desde a noite passada ali naquela guarda de cadeira. Não perguntei nada, fiquei sentado na ponta da mesa, riscando a toalha com a ponta da faca. Até que a mãe disse: - O Alex se encantou com a praia. O pobre nunca tinha visto o mar. Precisava ver, parecia uma criança. Ficou lá, não teve jeito de querer voltar. Bem feito, pensei, vai ficar vermelho feito um camarão. E de noite vai ter que passar talco nas costas e pasta de dente no nariz e ficar se rebolcando na cama sem conseguir dormir, porque quando a gente tá assim queimado até lençol dói na pele. Vai gemer e encher o saco a noite inteira e amanhã ou depois vai começar a descascar feito cobra trocando de pele até queimar tudo de novo e a pele ficar grossa que nem couro e ele começar a se sentir o máximo, de mocassim, calça branca e camisa banlon vermelha, todo queimado e idiota, idiota, idiota. Fui pensando nessas coisas enquanto a mãe servia a comida e o pai nem olhava direito pra mim, só lia o jornal, sacudia a cabeça e dizia barbaridade-mas-que-barbaridade, e eu nem conseguia comer direito nem sentir muito ódio. Que era mais um exercício de ruindade minha pensar aquelas coisas, precisava treinar todo dia pra não perder o jeito de ser pequeno monstro. Tomei quase um litro de qui-suco de groselha, puro açúcar, me deu um asco na boca do estômago, empurrei o prato sem fome. Disse que não estava me sentindo muito bem, e o pai falou: também pudera, o lorde, dormindo feito um condenado, vai acabar tuberculoso. A mãe falou: deixa o guri, também que implicância. Ele falou que era por isso que eu estava assim baseado, que ela parecia uma escrava minha. Ela disse que tinha alugado aquela casa na praia pra ver se descanava um pouco, não pra ele infernizar ainda mais a vida dela, que já era um martírio. E os dois estavam começando a gritar cada vez mais alto e eu aproveitei e fugi pro quarto sem ninguém ver.
CONTINUA...

4 comentários:

Anônimo disse...

OK?!
E o resto...cadê??!!
Sim né....por que creio estar faltando algo,estava ansiosa para ler o final....e não é possivel que termine desta maneira....ou então eu que não prestei atenção!!
Ok...vou reler novamente a ultima parte....devo ter perdido o fio da meada,sou meio alienada as vezes.
até...
lindo sorriso pra ti :)

Anônimo disse...

E parabéns pelo niver do BLOG!!!
Borboletas na janela faz parte da minha leitura permanente.

Super abraço....e nunca perca o folego,a paixão....pois é dela que vem as melhores historias!
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enorme sorriso pra ti :))
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Anônimo disse...

Oi amigo....quero me desculpar...rsrsrsrsr...juro que não vi a palavra continua ali abaixo. Perdoa essa tua leitora afoita.

enorme sorriso pra ti :))

eroticromanticvaniamara disse...

Parabéns Esdras, estou feliz por ti, gosto muito das borboletas, mesmo que sejam na janela rsrsrsr


Continuo afirmando que a sua sensibilidade me emociona, quer seja por um texto seu, quer seja de um outro autor, e o melhor é que você tem bom gosto literário.