domingo, 8 de fevereiro de 2009

UM PEQUENO SEGREDO

Dentro da negríssima escuridão, entre as tenebrosas copas das ávores que dançavam ao sabor do vento malicioso e cúmplice, descobriu-se profano e obsceno, mais do que isso, cruel e egoísta. Era apenas uma parte de si, uma pequena parte, mas ele a odiava profundamente. Apenas um pequeno pedaço, que tinha uma duração máxima de 15 ou 20 minutos, mas que parecia incontrolável. Repetia sempre em sua mente atormentada que não mais entregaría-se a tal prática, mas quando se dava por conta já era tarde demais.
Sentia-se como uma serpente rastejando em um chão imundo e poeirento, aflita e sedenta que pica sua vítima e mais que imediatamente desaparece em meio ao nada, após sentir o líquido esvair-se saciada e venenosa.
Livre da embriaguês noturna, revoltava-se, incoformado com sua fraqueza e passava as horas, os dias, todos os momentos de reflexão á procurar motivos para tanta devassidão. Sabia que não era um depravado, um doente, nem um tarado. Entendia que tinha necessidades como todo ser-humano, mas aquilo era inaceitável, asqueroso, nojento.
Justo ele, que sonhava com um amor arrebatador, que era a personificação do romantismo, que devaneava uma paixão calma e inocente. Justo ele, que pregava a moral e os bons costumes e acreditava sinceramente que poderia-se viver um grande amor sem necessariamente ter que praticar o sexo, o que para ele era apenas um detalhe, apenas a cereja do bolo, nada absolutamente prioritário.
E embora sentisse tudo isso, e essa sim fosse sua maior parte, a mais verdadeira e fiel a sua índole e seu caráter, aquele pedacinho maldito e imoral insistia em tomar conta de seus desejos soturnos e peçonhentos. Era um pedaço tão pequeno e insignificante, que ele se perguntava, rasgando-se por dentro em mil partes, por que não conseguia controlar. Então punha-se a rezar, a pedir e implorar ardorosamente com toda a fé de seu coração, com toda a fé adquirida desde a infância para que o Todo-Poderoso o iluminasse, para que lhe desse toda a força de caráter necessária pra vencer a tentação.
E resistiria então por dois, três, quatro dias, as vezes uma semana, até o momento em que a diabólica negríssima escuridão e as dissimuladas, pérfidas e tenebrosas árvores com sua maligna e hipnótica dança o seduzissem novamente.

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