terça-feira, 8 de janeiro de 2013

LEMBRANÇAS DE RÉVEILLONS PASSADOS


Na dúvida sobre o que escrever na primeira postagem do ano, me veio a ideia de relembrar passagens de anos anteriores, já que sou um ser irremediavelmente nostálgico e aproveitando que o ano ainda está fresco, tendo acabado de começar, achei oportuno uma breve sessão de "recordar é viver".

Já a algum tempo, a virada do dia 31 de dezembro para 1 de janeiro exerce sobre mim um grande fascínio, fascínio esse que vem diminuindo a cada ano que passa. Por ensinamentos familiares ditados por estudos religiosos fui levado a crer que o réveillon é uma comemoração pagã, condenada pela bíblia sem nenhuma importância real, apenas motivada pela grande ânsia das pessoas em festejar, beber até cair, fornicar e acreditar na grande ilusão que tudo vai ser melhor no ano seguinte. Ok, entendi e assimilei tudo isso até meus 15 anos de idade, quando em Aracaju no dia 31 de dezembro de 1996 alguma coisa dentro de mim despertou. Uma vontade louca de não estar ali dentro de casa me aprontando pra dormir, mas na rua, de preferência na praia vendo os fogos e sentindo aquela alegria que pairava no ar, vontade de botar pra fora alguma coisa presa dentro de mim, mas fiquei na vontade. Naquele ano e nos quatro seguintes meus réveillons e desejos foram devidamente reprimidos ao lado da família e alguns amigos, sempre dentro de casa, no máximo um churrasquinho e um carteado pra aproveitar a véspera de apenas mais um feriado, mas nenhum brinde, nenhum abraço de Feliz Ano Novo, nem fogos de artifício. Comemoração pagã, lembram? 

Mas alguma coisa dentro de mim pedia mais, suplicava por uma comemoração de arromba, com espumantes, taças de cristal, balões prateados, abraços, beijos, roupas brancas, felicitações, lágrimas, alegria, pedidos, promessas, gritos, música, dança, muitos fogos coloridos, esperança e fé. Pai e mãe achavam um absurdo, mas fazer o que? Meu coração pedia aquilo, mesmo que Deus não aprovasse. E acreditando sinceramente que Ele não estava nem aí pra isso tudo, segui desejando meu grande réveillon, com tudo que tinha direito. E assim, aos 20 anos experimentei a liberdade de estar longe do olhar m(p)aterno num dia 31 de dezembro.

2001/2002 - Morava em Londrina, já trabalhava, tinha uma certa independência e sabia que queria fazer algo diferente de tudo que já havia feito em outras viradas. Aí surgiu Juliana, uma colega de escola que tinha conhecido a pouco tempo, me convidando pra passar o réveillon na Friends, uma boite gls, a melhor da cidade. Pirei e topei na hora. Super empolgado, comprei roupa, acertei os detalhes e nos encontramos no apartamento dela poucas horas antes da meia-noite. Fomos pra balada de moto. Ao chegar a fila era monumental, mas estava tudo do jeito que eu imaginava, montes de gente bonita, todos com roupas claras, dentro da boite os balões, mesas repletas de frutas por toda a parte, drags montadíssimas em cima do salto e eu fervendo por dentro. Aquela seria a noite da minha vida, se não fosse a cretina da Juliana que as três da manhã cismou que iria embora porque tinha perdido a graça pra ela, estava com sono e não ia continuar na festa. Me jogou um tremendo balde de água fria, meu coração que estava fervendo murchou e me vi obrigado a voltar com ela. Naqueles dias não tinha jogo de cintura suficiente pra ficar sozinho numa balada. Fui pra casa dela e custei a dormir imaginando tudo o que poderia ter acontecido de especial naquela noite. No dia seguinte voltei pra casa com a sensação de quem foi a uma festa sensacional, cheia de coisas gostosas, mas não pôde experimentar nenhuma delas. Frustração me definiu naquele réveillon de 2001, o primeiro fora de casa.

2002/2003 - Não tem muito o que comentar sobre esse 31 de dezembro de 2002. Nada aconteceu. Morava no Imbé/RS e fiquei em casa com meu pai, minha mãe estava trabalhando numa festa de família. E aquele ano foi tão ruim que não havia nada pra comemorar, mas muito a pedir, então pedi em casa mesmo, no silêncio do meu quarto pra Ele que supostamente condenava aquele tal réveillon.

2003/2004 - Esse réveillon já foi mais divertido, um dos que mais gostei. Nada de especial, apenas uma baladinha na companhia de Marcelo e Léo, dois colegas do trabalho. Morava em Porto Alegre e estagiava no Hospital Espírita. Fomos os três a uma balada chamada Sunga Bar. E sem entrar em muitos detalhes, foi uma noite memorável, muita risada, música, bebida e...

2004/2005 - Em 31/12/2004 estava de volta a Tramandaí depois de quase dois anos estudando em Poa. Para as comemorações de fim de ano recebi Rafael e Eduardo, amigos da capital que chegaram no dia 30. Neste Réveillon fizemos um esquenta na casa da Carol, colega de trabalho, onde conheci várias pessoas, entre elas Sabrina, Karina e Talles. Depois da contagem regressiva, abraços, felicitações e champanhe partimos para o Sunga Beach, a filial do Sunga Bar de Poa, no litoral. Lá encontrei outro amigo, Fernando, que estava a minha espera. O lugar estava lotadaço, mal conseguíamos nos mover, mas foi uma noite e tanto.

2005/2006 - Esse Réveillon se passou em mais uma boite, dessa vez de volta a Porto Alegre na Refúgiu's, uma super casa noturna. Minha companhia nesse dia 31/12 foi Adilson. A noite foi tranquila, nada muito fervido, pelo menos pra mim, mas a lembrança mais forte desse réveillon foi a música Ai Ai Ai (Banho de Chuva) da Vanessa da Mata na performance da drag Glória Cristal que esteve luminosa. Depois dessa apresentação Ai Ai Ai virou o hit da minha vida. Até hoje espero alguém pra quem eu possa cantar "se você quiser eu vou te dar um amor desses de cinema...".

2006/2007 - Mais um réveillon memorável. Nesse me reuni na casa de Júlio e Fernando. Pouco antes da meia-noite partimos pra praia acompanhados de Kelly e seu namorado, cada um com sua boa espumante em mãos. A praia tava linda e quando começou os fogos foi muita emoção, o céu todo colorido se iluminava. Os pés na areia, depois na água, vontade de fazer uma oração de joelhos, chorar, gritar, agradecer. Foi lindo demais a energia que fluía. Cheios de areia voltamos pra casa, tomamos banho, colocamos nossa roupa bonita de réveillon e fomos curtir uma baladinha, Sunga Beach outra vez. Tudo muito bom.

2007/2008 - Esse foi o réveillon do regresso. Após passar 6 meses em Curitiba, estava de volta ao meu estado natal, estava feliz. Por estar feliz imaginei um réveillon incrível, mas foi incrivelmente chato. Combinei de passar com Rodrigo e Daniel, mas eu queria ir pra balada e o Rodrigo não. Fui até a casa dos dois pronto pra uma noite deliciosa e leve. O que aconteceu? Uma briga horrível entre os dois com direito até a agressão física. O motivo? Daniel não queria usar a roupa que Rodrigo tinha comprado pra ele. Resultado: Daniel desapareceu, Rodrigo ficou puto, eu me mandei sozinho pra balada. Chegando lá não aguentei ficar nem uma hora, faltava alguma coisa, faltava pessoas queridas, amigos. Saí e liguei pro Rodrigo que estava na praia, fui ao seu encontro. Fiquei um pouco com ele e suas sobrinhas, nem sinal de Daniel. Depois de algumas horas desisti daquele réveillon e fui pra casa dormir, Rodrigo continuou na praia e eu saí maldizendo aquela noite.

2008/2009 - O ano tinha sido maravilhoso. Foi o ano do meu retorno a Porto Alegre onde tudo tinha se encaixado perfeitamente. Conheci pessoas sensacionais e queria fechar 2008 com chave de ouro. Boa parte dos meus amigos não estavam na cidade, então entrei em contato com antigos vizinhos, uma galerinha fervida com quem tinha dividido o mesmo AP meses atrás e passamos todos juntos. Eu, Maurício, Jerry e Cristiano. Levei um tender e ceiamos na casa do Maurício que morava com o Jerry. A comida estava uma delícia, tinha um monte de coisa, carne assada, frango, linguiça, farofa, maionese. Comemos, vimos um pouco de tv, falamos besteiras, rimos e partimos para ver a queima de fogos no gasômetro. De lá voltamos a casa do Maurício para mais uns retoques e pegamos um táxi até a Refugiu's, onde dançamos e rimos até amanhecer. Com o dia claro fomos todos lá pra casa, preparei um bom café, falamos mais besteiras, demos mais risadas até o sono bater. 

2009/2010 - Nesse réveillon eu estava em São Vicente, na praia com Luana e Sílvia. Foi um ano que estive no céu e no inferno e tudo o que eu queria era voltar ao céu, então pedi muito que o ano seguinte fosse repleto de coisas boas. E entre um pedido e outro um beijo na boca e um banho de chuva.

2010/2011 - O ano começou cheio de angústia e terminou cheio de fé. Estava em Capão da Canoa. Passei no apartamento de Larissa pra ver os fogos de sua sacada que estavam tão lindos quanto os de 2006. Depois de ver o espetáculo de cores no céu encontrei com Daniel Machado, ficamos no centrinho, onde encontramos outros conhecidos e bebemos, comemos crepe e caminhamos na areia da praia.

2011/2012 - Após jantar em casa de Everton na companhia de Luli, Said, Gilvan, João e Marcus. Passamos o réveillon na Paulista, onde pegamos uma chuva, dançamos ao som de Jota Quest e finalizamos a noite cedo com uma passada rápida em casa de Luli. Apesar de ter sido o tão famoso réveillon da Paulista, foi um dos mais sem graça.

2012/2013 - E nesse último réveillon eu desejei que fosse o mais especial, mas  pra que fosse assim teria de acontecer coisas que não estão ao meu alcance realizar, mas nas mãos do destino. Um réveillon íntimo à beira de uma piscina bem decorada, com uma bela e apetitosa mesa, amigos sofisticados, bons de papo, cultos, música bem selecionada e quem sabe em meio a esse cenário mágico um alguém especial. Esse seria o réveillon dos sonhos. Mas não tenho mais os desejos afoitos de adolescente, quando acreditava que uma noitada de réveillon era o ápice de uma diversão ou que o recomeço de mais 365 dias realmente traria algo de surpreendentemente bom e novo. Amadurecendo a gente deixa de acreditar em contos de fadas e deixando de acreditar quem sabe eles não aconteçam.

Nenhum comentário: